O dia mundial da liberdade imprensa, instituído pela UNESCO em 1993, mais do que uma data comemorativa, é um dia para refletir à luz da realidade.
Criado para lembrar a importância da imprensa livre para o fortalecimento da democracia no mundo, a data de hoje mostra que ainda é preciso textoavançar, principalmente quanto a segurança de comunicadores em diversos países, inclusive no Brasil, onde a integridade física de profissionais de imprensa vem sendo permanentemente ameaçada.
Se o tema for assassinato de comunicadores no exercício da profissão, o ranking mundial de liberdade de imprensa produzido anualmente pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, mostra o Brasil numa posição, embora estagnada, muito constrangedora, passando do triste 101º lugar para o também triste 102º, atrás do México e da Coréia do Norte, entre 180 países analisados.
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Liberdade, abra as asas sobre nós
Uma nova ameaça à liberdade de imprensa?
Por aqui, além das mortes, o que surpreende é o alto número de agressões. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas, foram registrados entre 2015 e 2017, 99 casos de agressão contra comunicadores. Esse número se amplia ainda mais, por exemplo, se forem contabilizadas as 19 agressões registradas somente no momento da recente prisão do ex-presidente Lula, no início de abril. E, vale lembrar, eles estavam apenas fazendo o seu trabalho.
A violência contra jornalistas unifica a profissão, independentemente se exercida em países democráticos ou não, por profissionais da mídia tradicional ou por representantes da mídia digital. Em suma, os números traduzem uma barbárie moderna que precisa parar. Urgentemente.
A sociedade precisa entender que o jornalista é um mensageiro. Não se hostiliza, nem se mata o mensageiro. Esse código de ética existe e é respeitado desde a mais remota antiguidade e nas situações mais complexas. Não é o que prevalece nos nossos dias. A truculência contra jornalistas e comunicadores tem sido uma constante. E o que é pior, permanece impune na maioria dos casos.
Contudo, não é o único desafio que preocupa, e fere como um espinho, a profissão neste momento. O jornalismo precisa ser repensado a partir das novas tecnologias e dos novos impasses do cotidiano. As novas tecnologias exigem que se encontre novas linguagens e novos papéis para um profissional que, de repente, precisa ser multimídia, competir com o tempo real e ter a responsabilidade de interpretar diferentes contextos em meio a uma sociedade que se fragmenta e exige, também, múltiplos saberes.
Além disso, novos desafios ganham traços firmes como, por exemplo, as fake news (notícias falsas). Para combate-las, é necessário cada vez mais rigor nas apurações e ainda mais compromisso com a verdade factual. Exige-se, por fim, um maior compromisso ético, sobretudo, no que diz respeito ao impacto do noticiário junto à opinião pública.
Hoje, não basta inovar no campo da técnica jornalística como foi comum ocorrer ao longo do século XX. Agora, é indispensável dar saltos à frente e avançar no movediço terreno das ideias, reafirmando o compromisso com a liberdade de imprensa e de expressão.
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Se desejamos construir uma democracia autêntica, torna-se imperativo refletir em torno desse conjunto de questões. O jornalista é frequentemente associado ao poder, mas a sua missão começa e termina por iluminar a realidade. Portanto, não é o agredindo ou matando-o que a notícia deixará de ser publicada. Muito pelo contrário.
A imprensa livre ajuda a formar e informar a opinião pública. E contribui para a ajudá-la a raciocinar e fazer escolhas. Exerce, muitas vezes, o papel de fiscal do poder e tem relevante papel social. Mas nada disso justifica que se torne alvo de violência de qualquer espécie. Ela é fundamental (seja impressa, rádio, TV ou mídias sociais) à democracia.
Para que esse mal-entendido seja esclarecido é preciso modernizar a sociedade brasileira e entender que impasses são próprios de uma sociedade democrática e que não serão resolvidos pela violência.
Fonte: “Instituto Palavra Aberta”, 03/05/2018