Há pouco mais de um mês, o presidente Lula cumpre a execução de sua pena de prisão pela condenação sofrida no primeiro processo que respondeu na Operação Lava Jato. A despeito do que esperavam os petistas e o próprio, agora detento, a vida das pessoas continuou, o país continuou sua marcha, enfim, nosso país e sua população provaram que, apesar do protesto dos petistas, existe vida sem eles. Contudo, o objeto deste artigo não é este fato, mas um, dos vários, absurdos protagonizados por lideranças petistas durante os discursos no evento realizado por eles no dia em que Lula se entregou a Polícia Federal.
Naquela manhã diversas foram as lideranças partidárias que discursaram em defesa de seu líder político cuja prisão tinha sido decretada. Como era esperado, diversos militantes acompanharam no local, assim como via redes sociais os fatos que transcorriam durante o dia. Todavia, é completamente absurdo ver a quantidade de pessoas que se utilizaram do termo “fascista” para se referir a opositores do PT, assim como do ex-presidente Lula, tanto nas lideranças petistas quanto em seus militantes. Preocupa seriamente pensar a seguinte questão: o uso deste termo é o simples desconhecimento de história mundial ou a falta de compromisso com a verdade dos fatos históricos?
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Digo isso porque em momento algum o fascismo esteve ligado a movimentos liberais, ou, como gostam de afirmar de direita. O fascismo criado por Mussolini é totalmente antidemocrático, assim como concentra todos os poderes na mão do líder do Estado. No fascismo vemos a exaltação da coletividade nacional, por meio de um nacionalismo exacerbado. A frase base do fascismo para Mussolini era simples: “Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”, pronunciada por ele em 1920, e, um dos principais projetos dele era o controle total dos meios de comunicação. Aliás, este projeto não lembra o discurso de alguém? Além disso, foi Mussolini quem defendeu e criou a “Carta del Lavoro” a primeira legislação trabalhista do mundo e que serviu de inspiração para nossa Consolidação de Leis do Trabalho [CLT].
É curioso que outro regime da época também seja atribuído aos liberais, quando seus postulados ofendem boa parte dos princípios mais caros ao liberalismo, falo do nazismo. O Partido Nazista tem origem no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães que levou Hitler ao poder. Este partido teve um programa de 25 pontos, sendo que alguns deles são: abolição de todos os rendimentos não oriundos de trabalho, extinção do aluguel, fim da propriedade privada, reforma agrária, nacionalização de todas as indústrias estrangeiras, educação, saúde, segurança e aposentadoria sob a tutela do estado, controle da imprensa e meios de comunicação, combater o espírito judaico na nação, acabar com o lucro financeiro dos bancos. Chama a atenção o quanto este programa é semelhante com o de muitos partidos políticos atuais.
No que se refere aos japoneses, não são tão inocentes na época como muitos gostam de desenhar atualmente. O documento “Shinmin no Michi” [O caminho dos súditos] publicado em 1941 pelo Ministério da Educação do Japão tem o seguinte texto: “As teorias de base desses novos princípios sociais e do totalitarismo, na Alemanha e na Itália, visam afastar os malefícios constituídos pelo individualismo e pelo liberalismo. É digno de nota que esses princípios manifestem um grande interesse para o espírito e cultura do Oriente”.
Como pode ser observado, o discurso fascista/nazista e liberal são diametralmente opostos, tendo em vista que o liberalismo foca o poder ao indivíduo, não a coletividade; não existem mentes coletivas, mas sim indivíduos. Além disso, prezamos muito a autonomia da vontade, logo privilegiamos a posição do contrato na sociedade, não o dirigismo contratual que tanto temos visto nos últimos anos na legislação em nosso país.
Da mesma forma, é óbvio que liberais defendem direitos laborais, no entanto não em um nível em que inviabilizem a própria sobrevivência das empresas, objetivo este de partidos/seguidores do ideário socialista. Qualquer pessoa com um mínimo de lógica percebe que um sistema que vê o indivíduo como elemento central de seu ideário, jamais irá compactuar com qualquer ideologia que comporte qualquer forma de escravidão. Falar de forma diversa é deixar claro que está falando de qualquer coisa menos de liberalismo. Em razão disso, peço apenas um pouco mais de compromisso com a verdade dos fatos históricos, apenas isso.