Vivemos um momento curioso no cenário eleitoral: falamos de pessoas, mas não de competências demonstradas para resolver os problemas do país, pensamos em candidatos, e não na agenda que pretendem implementar ou no que pretendem fazer para aperfeiçoar as políticas públicas. É como se buscássemos um líder genial das massas ou alguém por quem nos apaixonássemos, e não um Brasil mais desenvolvido e menos desigual.
As redes sociais, em que atuo cotidianamente como ativista digital em prol de uma educação de qualidade, estão vociferando pela derrota do grupo inimigo e não trazem propostas para superar os impasses (que não são poucos) —e é essa voz que será ouvida pelos candidatos.
A complexidade da realidade vê-se, neste contexto, reduzida a disputas entre torcidas, em processos simplificadores tão propícios à emergência de populistas que se colocarão contra “tudo isso que está aí”.
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Outros grupos ameaçam sair do Brasil, sem perceberem que são exatamente essas atitudes que geram a impossibilidade de alternativas para o país, numa postura que revela descompromisso com o que ocorre com os que não lhes são iguais, já que não podem fazer o mesmo.
Há ainda a perspectiva dos que querem vingança e não corrigir erros percebidos. Entendam, trata-se de coisas diferentes: uma coisa é querer destruir o inimigo, outra é mudar os rumos de políticas públicas percebidas como incorretas.
Mas qual deveria ser uma agenda que nos faria sair desta situação? Arrisco propor três ideias para começar o debate.
Uma delas é profissionalizar a administração pública. Uma carreira importante do governo federal é a dos especialistas em políticas públicas, que podem ter desempenho em diferentes ministérios e, dada a atratividade da carreira, com boa remuneração e respeitabilidade, trazem continuidade em iniciativas e proteção contra fisiologismos. Essa carreira deveria ser criada (e, em alguns casos, revitalizada) em governos estaduais e, futuramente, municipais.
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Outra ideia seria pôr as universidades federais, como já ocorre em alguns estados, no Ministério da Ciência e Tecnologia, onde poderiam desempenhar papel importante no desenho e promoção de um novo modelo de desenvolvimento, ao se conectarem mais com as reais necessidades do país.
Finalmente, na educação básica, investir numa formação inicial e continuada do professor mais vinculada com uma práxis colaborativa, a partir do chão da escola, em que ensino e pesquisa estejam associados ao que os alunos precisam para desenvolver todo o seu potencial. Educação de qualidade, afinal, constrói-se com altas expectativas para todos.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 29/06/2018