“Fake News” é um termo que só faz sentido quando a informação “falsa” – fabricada, incorreta ou tendenciosa – é disseminada através do ecossistema oficial de mídia. Caso contrário, se é algo que você diz ou eu digo, trata-se de mera expressão privada, totalmente protegida pela Constituição. Não pode ser censurada. Não pode ser silenciada. Se aquilo que você ou eu dissermos ofender alguém, essa pessoa ofendida pode recorrer à justiça. Se o que dizemos é factualmente incorreto – se eu disser, por exemplo, que a Terra é plana – outra pessoa (até mesmo o Governo, veja você) pode me corrigir. Mas não há “notícias falsas” (“fake news”) no discurso privado! Há fofoca, desinformação, discurso de ódio – mas nunca, nunca “notícias falsas”.
A alegação – feita por muitos americanos e alguns brasileiros – de que as “fake news” devem ser reprimidas porque influenciaram a última eleição dos EUA, precisa ser tratada separadamente. Ela é tão absurda a ponto de desafiar a credulidade. Para que este argumento tenha uma chance mínima de ser considerado é preciso ter provas sólidas de que a mesma coisa não aconteceu em todas as eleições anteriores – isto é, que a disseminação de informações falsas e incorretas não é uma arma usada desde sempre por políticos profissionais contra seus oponentes.
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Mas o argumento se torna ainda mais absurdo se você ler atentamente o que vários analistas políticos vêm escrevendo. Segundo eles, a eleição Americana foi influenciada por uma “máquina de fake news movida por tecnologia russa”. Esses analistas, então, imediatamente assumem que essa influência poderia ter sido evitada através de ações do governo ou de grandes empresas (como o Facebook) contra cidadãos cumpridores da lei que, por acaso, estão em um lado político diferente do lado em que esses analistas estão. Não dá para acreditar que isso seja uma posição séria ou imparcial.
A verdade é que o jogo virou. Somos todos, agora, produtores de informação. A mídia de massa está a caminho da extinção. Nós não precisamos mais do Guga Chacra para nos dizer o que está acontecendo, ou por que está acontecendo. Milhões de jornalistas terão que encontrar outros empregos. A página do MBL – apenas para citar um único exemplo – atinge 3 milhões de pessoas que, de outra forma, receberiam suas notícias de uma grande mídia de massa. Sem páginas como a do MBL essas pessoas ainda acreditariam que a Dilma foi uma “grande gestora” e que a operação Lava Jato foi criada pela CIA para roubar o petróleo do pré-sal.
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Por isso, é absolutamente necessário perguntar: vocês já ouviram falar de alguma iniciativa para conter “fake news” disseminadas por um grande jornal ou rede de TV? Eu tenho guardados dezenas de exemplos da quantidade interminável de lixo com que a grande mídia nos alimenta todos os dias.
É um lixo que decide eleições.
E quem está lutando contra as “fake news” da grande mídia? Nós! Eu e você, em nossas redes sociais.
E como a mídia reage? Eles chamam o que nós escrevemos de “fake news”, cancelam nossas contas e apagam nossas páginas.
Isso é pura censura e totalitarismo, travestidos com uma maquiagem borrada de democracia.
+ Assista ao hangout “Fake news em ano eleitoral”: