Nos últimos 12 meses, as ações das empresas petrolíferas que mais se desvalorizaram foram as da BP e da Petrobras. A desvalorização das ações da BP em praticamente 50% foi devido ao acidente do Golfo do México.
Esse acidente, que já é o maior da indústria petrolífera, trouxe mudanças no mercado de petróleo, aumentando o risco das empresas, em particular daquelas que possuem uma maior produção no mar.
A surpresa do mercado foi a Petrobras apresentar a maior queda nas ações depois da BP. A queda no ano, até 13 de julho, de 24,5% da ação PN da Petrobras supera em muito a do Ibovespa (-7,15%).
Um investidor que aplicou R$ 1 mil em Petrobras PN no início do ano agora tem apenas R$ 755, enquanto que o que investiu a mesma quantia em Vale PNA possui R$ 921.
As verdadeiras causas dessa queda brutal estão diretamente ligadas à gestão política da empresa. Desde o anúncio da descoberta da camada pré-sal, a estatal passou a anunciar vultosos investimentos num contexto de crise internacional.
Durante todo o ano de 2009 e parte de 2010, ocorreu a discussão no Congresso Nacional dos projetos de lei que objetivam mudar o marco regulatório do petróleo.
A condução das discussões por parte da direção da Petrobras sobre o projeto de capitalização da empresa gerou sempre incertezas e dúvidas.
Primeiro, a discussão no Congresso foi mais demorada do que a empresa esperava, e durante esse período diretores da estatal deram declarações que criaram ainda mais incertezas.
A principal foi de que a Petrobras faria a capitalização em julho mesmo que a ANP (Agência Nacional do Petróleo) não tivesse concluído a certificação dos volumes de petróleo e o valor do barril.
Basta ler o projeto de lei, que já foi sancionado pelo presidente Lula, para verificar que não seria possível fazer a capitalização sem que a ANP concluísse a certificação.
Com isso, mais uma vez a capitalização foi adiada. A nova data será final de setembro. Mais uma vez a empresa erra ao marcar a capitalização às vésperas das eleições presidenciais.
Mais uma vez os interesses políticos prevalecem sobre os dos acionistas. Outro ponto foi o fato da Petrobras lançar o seu novo Plano de Investimentos para o período 2010-2014 sem que a capitalização tenha sido aprovada.
O novo plano, mais ambicioso do que o anterior, no volume de US$ 224 bilhões, ainda traz um viés de decisão política que é a construção de cinco novas refinarias.
Também restam dúvidas de qual será o valor do barril de petróleo nessa cessão onerosa. Dependendo do valor, o beneficiário poderá ser o acionista privado ou a União.
Caso se coloque um preço baixo para o barril estaremos beneficiando o acionista privado, em particular o estrangeiro, na compra das ações.
Caso contrário, a União poderá passar a deter um maior volume de ações em suas mãos. Isso mostra o erro de se fazer uma capitalização desse porte na principal estatal brasileira num ano de eleições.
Com certeza, as eleições influenciarão na determinação do preço do barril colocado na cessão onerosa.
Fonte: Jornal “Brasil Econômico” – 22/07/10
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