Uma das heranças mais desconfotáveis do nosso passado inflacionário é a mania que setores da sociedade têm de imaginar que medidas na área econômica são obrigadas a produzir efeito assim que editadas.
Isso, com certeza, vem do tempo em que presidentes como Fernando Collor de Mello diziam ter apenas uma bala para abater o tigre da inflação – e davam tiros que, invariavelmente, erravam o alvo.
Meses atrás, quando a Fazenda e o Banco Central tomaram providências para depreciar o real, muita gente se apressou em decretar o fracasso da ideia simplesmente porque o dólar não subiu imediatamente.
Pois bem: nas últimas semanas, os analistas de plantão apontaram o dedo na direção da crise europeia na tentativa de indicar as razões que elevaram o preço do dólar pouco além de R$ 2. Poucos mencionaram as medidas de meses atrás como as responsáveis pela elevação do preço da moeda americana.
Na semana passada, preocupado com a alta exagerada do dólar, o governo mexeu mais uma vez nas regras de entrada de divisas no país – desta vez, para eliminar algumas das barreiras erguidas quando o preço girava em torno de R$ 1,50.
Agora, como naquele momento, a intenção é fazer com que a cotação sofra o efeito das novas regras e se fixe no patamar considerado ideal, que é entre R$ 1,80 e R$ 1,90. Mais uma vez, o tal “mercado” ergueu a voz para dizer que não deu certo.
O tempo (que desta vez será de no máximo três ou quatro semanas – e não de meses) dirá se as providências foram suficientes ou não. O certo é que, em economias estáveis, não existem pacotes de efeito imediato. Ponto final.
O mesmo imediatismo contamina as avaliações das medidas de estímulo da economia adotadas pelo goveno com a intenção de garantir um crescimento pelo menos igual aos 2,7% do ano passado – um percentual considerado baixo por todo mundo, inclusive pelo próprio ministro Guido Mantega.
Com base em dados coletados no período anterior à adoção das medidas, muita gente ergue a voz para dizer que elas foram inócuas. Dentro de dois ou três meses, o mercado estará mais aquecido e pouca gente se esquecerá de incluir as providências recentes entre as causas da recuperação.
O problema da economia brasileira não está na natureza das medidas adotadas. Mais cedo ou mais tarde, elas produzirão efeitos tanto no que diz respeito ao câmbio quanto ao crescimento.
Quanto ao câmbio, a receita é essa mesmo: é preciso que se adotem medidas prudenciais sempre que o cenário externo produzir variações indesejáveis na cotação da moeda.
No caso do crescimento, o problema é um pouco mais sério. O abuso na dose faz com que o organismo se habitue e o remédio perca o efeito com o tempo.
Impostos baixos e crédito em abundância são medicamentos eficazes – mas só funcionam porque, como regra que vale não apenas para as montadoras, mas para todos os segmentos da economia, os tributos são indecentes e os juros, elevadíssimos.
O problema está justamente aí: a economia precisa de regras permanentes (na forma de um sistema tributário menos burro do que o nosso) que crie condições favoráveis para o crescimento. Do contrário, continuaremos vivendo para sempre entre sístoles e diástoles tributárias.
Fonte: Brasil Econômico, 17/06/2012
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