A pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite traz dois resultados esperados e duas surpresas. Eram esperadas as altas dos candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. São supreendentes a rejeição crescente a Bolsonaro e a subida de Ciro Gomes.
Numa leitura mais superficial, os números do Datafolha trazem a impressão de uma disputa embolada na segunda posição. Analisados de perto, revelam diferenças importantes nas campanhas e caminhos distintos para cada um chegar ao segundo turno. Ciro disputa com Haddad o voto nordestino e o espólio lulista. Alckmin tem barrado o crescimento de Bolsonaro entre os eleitores das camadas mais baixas da sociedade. Marina vê seus votos escaparem para os competidores com estratégias de campanha mais sólidas.
Haddad foi candidato que mais cresceu desde a última rodada do Datafolha. Ele ganhou 7,4 milhões de votos, aproximadamente a mesma quantidade que perdeu a candidata que mais caiu, Marina Silva. A alta de Haddad traduz não apenas a realidade da transferência do voto lulista, mas também a consolição da esquerda em torno de seu nome.
Leia mais de Helio Gurovitz:
Ainda é possível um segundo turno entre PT e PSDB?
O favoritismo de Bolsonaro
A bomba de Temer para o sucessor
O principal obstáculo que ele terá de superar nas próximas semanas é Ciro Gomes, cuja candidatura se beneficiou da demora do PT para desistir da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em prol de Haddad. Isso fica evidente na análise regional do voto.
Como esperado, Haddad subiu menos no Sudeste (2 pontos) e mais no bastião petista do Nordeste (8 pontos). Mas Ciro registrou uma alta de 6 pontos entre os nordestinos – e é líder na região, com 20%. Foi lá também que, proporcionalmente, Marina mais perdeu votos (caiu de 19% para 11%). Se o PT tiver dificuldade para herdar os votos lulistas no Nordeste, a candidatura Haddad naufraga.
A segunda revelação dos números Datafolha diz respeito à candidatura Bolsonaro. Vítima de atentado na semana passada, ele consolida a primeira posição e confirma seu favoritismo a chegar ao segundo turno. Embora as intenções de votos em Bolsonaro tenham crescido de 22% para 24%, elas se mantiveram no mesmo nível, em 31%, como proporção dos votos válidos (excluindo os indefinidos).
Isso significa que o atentado não se traduziu numa onda de simpatia pela candidatura Bolsonaro. Ao contrário, o Datafolha mostra que seu índice de rejeição continuou a subir e é, disparado, o maior entre todos os candidatos, como revela o gráfico abaixo:
A alta na rejeição a Bolsonaro representa um desafio enorme para ele no segundo turno. Pelas simulações, hoje ele só teria chance contra Haddad. O mesmo vale para o petista. O Datafolha confirma, portanto, o interesse de um em levar o outro ao segundo turno.
A pesquisa também revela a dificuldade que Bolsonaro tem para conquistar votos entre os eleitores mais pobres, com menor nível de instrução e entre as mulheres. Ele tem 32% do voto masculino, mas 17% do feminino – a maior diferença entre os candidatos.
Lidera com folga na faixa intermediária de renda, de 5 a 10 salários mínimos: tem 38% das intenções de voto. Esse patamar vai para 30% entre quem ganha de 2 a 5 mínimos, e para 17% entre os pobres, cuja renda não chega a 2 mínimos. Entre os mais ricos, Bolsonaro tem 31%.
O contraste fica evidente quando os votos são analisados de acordo com o grau de instrução. Bolsonaro tem 30% das preferências no nível médio, 29% no nível superior – e apenas 15% no nível fundamental, estrato em que Alckmin tem 14%; Marina e Ciro, 12%.
Está nessa faixa a maior quantidade de votos indefinidos. O candidato que mais tem conseguido atraí-los até o momento, beneficiado sem dúvida pela fatia de 44% do tempo no horário eleitoral gratuito, tem sido Alckmin, como mostra a tabela abaixo. Entre as duas últimas rodadas do Datafolha, ele obteve 2,7 milhões de votos entre os quase 11 milhões que definiram voto nessa faixa (embora, no total, tenha somado apenas um saldo de 2,5 milhões).
Ciro, o candidato que mais cresceu depois de Haddad (conquistou 3,8 milhões de eleitores), disputa com ele e Bolsonaro o eleitor de nível médio, grupo onde obteve 61% dos novos votos. Bolsonaro, mesmo exposto no noticiário, reduziu o ritmo de crescimento. Conquistara 5,2 milhões de novos eleitores na última rodada; foram 3,2 milhões agora (1,3 milhão no nível fundamental, 1,2 milhão no médio).
O percentual de eleitores indefinidos caiu, nas duas últimas semanas de 28% para 22%, patamar compatível com a proporção de votos nulos, brancos e abstenções registradas na urna. Acabou a primeira fase da campanha, em que os candidatos sobem com votos conquistados entre aqueles que não sabiam em quem votar. Embora ainda haja algo como 32,4 milhões de votos indefinidos, os definidos somam quase 115 milhões. Qualquer estratégia para subir passa agora necessariamente por tirar votos dos adversários.
Fonte: “G1”, 11/09/2018