Todo prefeito – e candidatos mais ainda – é extremamente sensível às percepções da população. O que vai bem ninguém reclama, se reclama é porque as coisas vão mal. Num contexto em que tantos outros problemas se tornaram mais relevantes, a educação não foi um tema candente nas questões eleitorais de 2016. Aqui e acolá houve pressão por vagas em creches – além, claro, dos legítimos e inevitáveis pleitos corporativistas de sempre.
Mas o prefeito não pode se iludir: a educação precisa melhorar muito para que os cidadãos, especialmente os mais pobres, tenham vez e voz na sociedade. Quais são as questões candentes da educação?
É temerário falar em problemas gerais num país tão diferente quanto o Brasil. Mas vou chamar atenção para três problemas que são comuns a todas as redes municipais de ensino.
O primeiro problema é o de eficiência: os recursos da educação sempre serão limitados, é preciso usá-los bem. Para isso eles precisam ser bem geridos, especialmente os custos de pessoal – que constituem o maior gasto na educação. O Brasil acumulou uma série de cacoetes na gestão da educação que levam a uma enorme ineficiência. Para gerar recursos para promover a qualidade e equidade é preciso fazer uma gestão eficiente.
O segundo problema é de qualidade: a qualidade da educação no Brasil é péssima. Estamos entre os piores do mundo. Tivemos alguma melhoria nos últimos vinte anos, mas foi muito pouco, só nas séries iniciais e só em algumas faixas da população. É preciso dar um salto de qualidade, e só se faz qualidade começando de baixo para cima – exatamente a faixa sob responsabilidade dos prefeitos.
O terceiro problema é o da equidade: as pessoas são diferentes, nascem em condições diferentes e chegam à escola em condições diferentes. A educação tem uma dupla missão. De um lado, por ser meritocrática, ela pode equalizar as oportunidades – quem tem competência e se esforça progride, independentemente da origem socioeconômica. Mas há um porém: as pessoas já entram na escola em condições desiguais para competir. É a corrida do coelho com a tartaruga. Ao chegar na escola – ou mesmo na pré-escola – já é tarde para corrigir essas diferenças. O que um prefeito pode fazer para reduzir desigualdades?
A boa notícia é que para a grande maioria da população, inclusive e especialmente a população de baixa renda, é possível reduzir ou mitigar algumas consequências negativas associadas à pobreza e às condições de vida das populações de menor nível socioeconômico: investir em políticas vigorosas de combate à pobreza e de proteção à primeira infância – faixa etária que considera a criança a partir de sua gestação até os 6 anos de vida. Trataremos disso no próximo post.
Fonte: “Veja”, 1º de novembro de 2016.
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