Continuamos no “olho do furacão”. Na semana passada foram mais turbulências nos vários mercados de ativos. O dólar passou de R$ 3,26, a bolsa de valores oscilou em torno de 48 mil pontos, num movimento que se repete há alguns anos, os contratos futuros de juro, no curto e longo prazo, atuaram “esticados” e o risco país ameaçou passar dos 320 pontos.
No governo, os ruídos e desencontros continuaram na ordem do dia, no duro embate no Congresso, com o partido majoritário PMDB em movimento velado de oposição, talvez na chantagem por mais esferas de influência nas empresas estatais e ministérios. A presidente acenou por uma trégua, anunciando mudanças entre seus conselheiros políticos, incluindo mais da “base de apoio”, do PMDB e outros, como PSD. Em paralelo, Rodrigo Janot anunciou a “famosa lista”, com vários políticos de renome envolvidos e devendo responder a processo.
Na esfera econômica, os dados seguem divulgados, mostrando deterioração na inflação, taxa de câmbio cada vez mais depreciada, pressões por novas elevações da taxa de juros, economia parada, confiança no chão, desemprego aumentando e renda em queda e poucos avanços nos indicadores externos. Um fato relevante, e positivo, foi a divulgação da ata do Copom, bem mais realista do que no passado, colocando, de forma bem clara, como se encontra realmente, a situação econômica do país.
Disse que a inflação permanece em patamar elevado, devido aos ajustes de preços relativos em curso (câmbio depreciado e realinhamento tarifário), mas que acredita na convergência ao centro da meta em 2016; abriu a possibilidade de novas rodadas de ajuste da taxa de juros; falou que a economia segue em ritmo inferior ao potencial; considerou relevantes os riscos existentes no cenário global; e na gestão fiscal, na sua visão, confiou na convergência à neutralidade. Sobre os principais pontos cabem alguns comentários.
Sinalizações da ata. Diante do momento atual, com a taxa de câmbio depreciando e os preços administrados em correção, novos ajustes devem ser sancionados nas próximas reuniões do Copom. Para abril (dias 8 e 9) mais um ajuste é previsto, com dúvidas sobre sua intensidade, se 0,25 ou até 0,75 p.p.. Tudo dependerá do ritmo da economia, das correções dos preços administrados e da taxa de câmbio. Ao fim de 2015, acreditamos numa taxa básica entre 13,0% e 13,5%, mas não descartamos 14,0% se o ambiente econômico se deteriorar muito.
Ritmo da economia inferior ao potencial. O BACEN acredita que a retomada da economia deve ocorrer “conforme se fortaleça a confiança de empresas e famílias”. Este é um ponto crucial para a inflação desacelerar no ano que vem, além dos preços administrados em patamar inferior, depois do realinhamento deste ano. Segundo a ata, este último deve retirar 1,8 ponto percentual do IPCA em 2016.
Riscos elevados à estabilidade global. A ata considera ainda haver riscos elevados no cenário internacional. Mesmo considerando “a possibilidade baixa de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, achou que o ambiente permanece complexo”. Ou seja, toda atenção é pouca no cenário externo, com as tensões no Oriente Médio, ameaça de ruptura na Grécia e menos crescimento da China.
Setor público. Acredita que a gestão pública tende a deslocar para uma “zona de neutralidade”. Para isto, será importante que a equipe econômica avance no ajuste fiscal, aprovando grande parte das medidas no Congresso. Numa análise preliminar, a meta para este ano, de 1,2% do PIB, deve representar um ajuste de R$ 111 bilhões que, dificilmente, deve se manter, dadas as resistências no Congresso.
Comentários finais. A ata, de certa forma, reforçou o bom curso da política econômica atual, mais pragmática e menos sujeita aos solavancos das desastradas medidas adotadas no primeiro mandato. No front fiscal até tivemos uma boa notícia, com a aprovação da nova fórmula de correção do Imposto de Renda, não mais linear, mas agora escalonada entre as diferentes faixas de renda. Novas rodadas de negociações para a aprovação das medidas fiscais no Congresso são esperadas para as próximas semanas.
Continuamos muito preocupados, no entanto, com o momento político e a herança maldita do primeiro mandato, mas com uma ponta de esperança de que a nova equipe econômica possa realizar, de fato, um “freio de arrumação na economia”. Acompanhando os movimentos do ministro Joaquim Levy, a dúvida é saber se ele conseguirá adotar tudo que planeja, visando o ajuste fiscal de R$ 111 bilhões para este ano. O maior receio, neste caso, diz respeito à sua resistência ao ambiente político atual, polarizado e tenso. Esperamos que ele “sobreviva” a isto.
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