Antonio Palocci se foi e, tudo indica, levou com ele a crise que rondava o Planalto. Pode ser que ainda haja alguma ressonância nos próximos dias. Mas o ex-ministro logo desaparecerá do noticiário e, em alguns dias, o que pareceria ser o episódio mais grave da República – seu enriquecimento acelerado – desaparecerá no rastro de um novo escândalo.
Quando isso acontecer – o que não deve demorar -, a “base aliada” voltará a pressionar por mais espaço no governo.
Sim: uma nova crise se avizinha e, quando ela emergir, ninguém deve se surpreender ou se indignar. Sem querer entrar no mérito da acusação que derrubou Palocci (que, realmente, fica sem resposta), todos sabemos que o Brasil e, especialmente, Brasília são terrenos férteis para a denúncia.
E que elas valem mais do que a apuração dos fatos. Não importa se o acusado é culpado ou inocente. O tom das críticas que ele recebe é ditado não pelo ilícito em si, mas pela estatura do cargo que ele ocupa ou do poder que parece reunir.
Esse tem sido o padrão de relacionamento das “forças políticas” diante do jogo de toma-lá-dá-cá em que se transformou a convivência entre Executivo e Legislativo no Brasil. Os golpes mais violentos são desferidos pelos menos aquinhoados com cargos no governo. É só reparar para ver.
Portanto, que ninguém venha dizer que já há algo errado com o Brasil no momento em que a próxima crise vier à tona. O jogo é simples: diante da denúncia, consistente ou não, os políticos “aliados” pressionarão e exigirão como moeda de troca sempre mais cargos, mais favores, mais verbas.
A questão é que, às vezes, o governo dispensa o auxiliar sob ataque sem entregar nada do que foi exigido e, quando isso acontece, as “forças políticas” precisam dar um tempo antes de retomar o ataque.
Cada governo tem uma maneira de lidar com isso. Fernando Henrique Cardoso tinha contra si uma oposição aguerrida, capitaneada pelo PT, e esse fato, em lugar de atrapalhar, ajudou a manter sua base de apoio (que era ampla) sempre coesa.
A bem da verdade, pode-se dizer que FHC só começou a ter problemas com o Congresso depois que uma ala do PMDB percebeu a chance de vitória de Lula nas eleições de 2002 e resolveu – por assim dizer – fazer uma revisão profunda de suas posições, descobrindo, subitamente, os efeitos nocivos da “política neoliberal” do governo.
Com Lula, a oposição só existiu para valer na época do Mensalão, e o governo logo descobriu na criação de cargos e ministérios uma maneira eficiente de aumentar a força de gravidade sobre os “aliados”.
No governo Dilma, esperava-se um outro tipo de solução: o ex-presidente Lula investiu todo seu prestígio para ajudar a eleger uma “base aliada” confortável, e muita gente acreditou que uma aliança estabelecida desde o início seria suficiente para dar tranquilidade à nova presidente.
Como se viu, a tranquilidade durou pouco. O problema, como já foi dito aqui, não é Dilma nem o seu governo. O problema é o sistema político brasileiro – e crises como a que derrubou Palocci mostram necessidade de uma reforma. Só não vê quem lucra com a situação como está.
Fonte: Brasil Econômico, 09/06/2011
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