Desde 2007 começou a ficar claro o erro estrutural de avaliação contido nas notas de classificação de risco atribuídas pelas principais agências de rating, em geral uma nota máxima AAA, grau então baseado na quase impossibilidade de haver atrasos de pagamentos nas tranches menos arriscadas dos pacotes de empréstimos imobiliários americanos.
A mesma lógica permitia a essas agências de risco atribuir nota AAA aos bonds emitidos pelos tesouros de países avançados e economicamente poderosos.
E, da mesma forma, atribuía-se um AAA, ou seja, risco remotíssimo de quebra ou calote, a uma lista importante de grandes bancos americanos e europeus, bem como a certas empresas de porte mundial.
A prática das rating agencies de atribuir risco remoto, com classificação máxima, para um sem-número de emissores de dívidas, fossem governos ou do setor privado, ou ainda, a operações garantidas por títulos prontos para serem recebidos (os chamados recebíveis) provou-se completamente equivocada e desastrosa.
O mercado associa ao AAA uma mágica de certeza de pagamento, de fato muito difícil de ser prevista ou estimada, mesmo quando as estatísticas de comportamento passado, anos a fio, dêem conta de que aquele devedor é muito confiável.
A tentação de seguir o mercado que, às vezes, se põe eufórico diante de situações perigosamente prósperas e seguras, como foi até a virada do milênio, nos EUA e Europa, deu às agências de risco uma falsa licença para saírem distribuindo notas AAA e AA, a rodo, caracterizando riscos muito baixos ou quase nulos, todos com probabilidades de calote de 1% ou menos, num horizonte largo de cinco anos.
Isso não existe no mundo atual. Notas de rating que não conseguem refletir, com razoável antecipação, de meses ou anos, determinados cenários mais arriscados, convertem-se em meros registros de óbito quando um calote acontece no mercado.
As grandes agências viraram, durante esta crise, funerárias de maus riscos. E, na medida em que não antecipam situações, se convertem em meras registradoras do que todos já perceberam, como na decisão, esta semana, de colocar, de uma só vez, dívidas soberanas de 15 países europeus com alerta de possível rebaixamento, às vésperas do Summit que começou ontem.
Seria uma maneira de puxar a orelha dos países europeus para que produzam um plano consistente para a crise? Mas não é função de agências de risco opinar em cima do fato, nem se meter nas decisões dos emissores.
Cada um faz o que quer e pode. O papel de um bom rating é antecipar, com grande antecedência, e aferir a capacidade estrutural de pagar dívida (que não muda senão lentamente) de um emissor.
Ora, essa medida é como a do barômetro, que antecipa com folga a mudança de tempo. Como os ratings se converteram em termômetros do que acaba de acontecer, influenciam os mercados da pior maneira, ao agravar a notícia daquilo que já vai mal. E perdem sua qualidade de precificar o futuro.
Para consertar essa ação coadjuvante negativa das agências na crise, é preciso repensar a maneira de fazer e anunciar ratings e quebrar o oligopólio das grandes agências, fomentando competição e novos entrantes, que funcionem como faróis, não como espelhos retrovisores dos riscos.
Fonte: Brasil Econômico, 10/12/2011
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