As dúvidas que cercam a capacidade de o país driblar os obstáculos políticos para levar adiante o ajuste fiscal, a crise sem fim na Petrobras e um cenário externo desfavorável estão fazendo com que os indicadores de risco do Brasil oscilem em patamar muito próximo das máximas alcançadas no pós-crise de 2008 e 2009. Os credit default swaps (CDS), títulos de cinco anos que funcionam como um seguro contra o calote da dívida soberana do país, chegaram a 236 pontos na segunda feira, e ontem era cotados a 222 pontos, bem acima do valor médio de 2014, de 163 pontos.
Outro indicador do risco-Brasil, o Embi+ (Emerging Markets Bond Index Plus), calculado pelo banco JPMorgan, que calcula quanto os papéis brasileiros pagam acima dos títulos do Tesouro americano, estava ontem em 300 pontos, também acima da média, de 228 pontos, de 2014. Em ambos os casos, quanto mais baixos esses indicadores, mais confiança os investidores estrangeiros têm no país.
— Houve uma tensão forte na última sexta-feira, quando os resultados fiscais do governo em 2014 vieram bem piores que o esperado. E os problemas da Petrobras certamente afetam a credibilidade do país — diz Rodolfo Oliveira, economista da Tendências Consultoria.
Outra referência usada pelos economistas para avaliar se o risco-Brasil está muito alto é compará-lo ao de outros países da América Latina. A Tendências observa o CDS médio de Chile, México, Colômbia e Peru, que são as economias mais sólidas da região. E essa diferença, que em condições normais varia entre 10 e 15 pontos, foi de 72 pontos na média em 2014. Este ano, está em 82.
— As medidas de ajuste fiscal ajudaram a melhorar o índice, mas há desafios políticos consideráveis para levar o ajuste adiante — observa.
Leonardo Monoli, sócio responsável pela gestão dos fundos da Jive Investments, nota que os CDS de Brasil e México vinham “alinhados” até junho de 2014, e hoje o prêmio de risco brasileiro está o dobro do mexicano. Entre as razões para a deterioração do indicador do país, ele vê a crise da Petrobras, que chegou a um ponto muito “além de qualquer limite imaginável pelos analistas”.
— O mercado não quer mais acreditar em palavras, não adianta só pôr o Levy (na Fazenda). O mercado deve esperar até março para ver o fechamento dos dados fiscais, que têm de apresentar uma melhora mínima, que seja — diz Monoli, que acredita que um novo rebaixamento da Petrobras pelas agências de rating pode levar o país a perder o grau de investimento.
Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, concorda que o governo assumirá o risco da Petrobras em caso de rebaixamento. Mas fatores externos, como a alta dos juros nos EUA, a crise na Grécia e a desaceleração da China complicam o cenário.
Fonte: O Globo.
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