O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, afirmou que nos últimos quatro ou cinco anos houve, por parte do governo, um processo de negar a realidade, com a adoção de políticas econômicas de juros artificialmente baixos, câmbio controlado e abundância de crédito público. “Você maximizou o que não poderia e, se havia tendência ruim em termos de setor externo (com o fim do boom de commodities), a produtividade que parou de crescer soma-se à política econômica que potencializou os problemas”, afirmou, durante 9º Encontro Paulista de Fundações, realizado nesta quarta-feira, 2, na capital paulista.
As decisões políticas que agravaram o quadro econômico interno após 2011, segundo Goldfajn, levaram ainda ao acirramento de riscos relacionados a responsabilidade fiscal, dívida publica, perda do grau de investimento e aumento do risco país. Para ele, o boom de commodities ao longo da década passada “escamoteou” a deficiência da economia brasileira, especialmente de pouco avanço da produtividade desde 2006.
No cenário atual, avalia o economista-chefe do Itaú Unibanco, a apresentação do Orçamento de 2016 que prevê déficit primário de cerca de R$ 30 bilhões é uma prova de que o “problema fiscal” está longe de ser resolvido. O especialista, porém, destaca que alguns resultados do setor externo têm apresentado dados positivos nos últimos meses devido à desvalorização do real ante o dólar. “Parece que o impacto de câmbio e a recessão têm feito o ajuste fiscal ser mais rápido”, avaliou.
Entre as consequências da mudança do nível do câmbio, o economista ressalta já ser possível perceber o surgimento de um processo de substituição de importações e, mais a longo prazo, haverá uma melhora das exportações. “Mas isso não será suficiente para se fazer o ajuste. Vai levar bastante tempo para fazer efeito”, estimou. Para ele, é difícil que o setor externo seja capaz de retomar o crescimento da economia brasileira, por não responder pela maior parte do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo Goldfajn, é preciso haver uma diminuição do déficit em conta corrente nos próximos dois anos, dos atuais 4,5% para 1,5% do PIB. Para ele, para que este movimento ocorra, é necessário que a taxa de câmbio fique “um pouco acima” da atual. Esta tendência, no entanto, tem reflexos negativos. “Ganhar competitividade pelo câmbio é a saída pela pobreza e pela queda de renda”, disse. “Isso aumenta a inflação, acaba por reduzir a renda, o salário real e, de certa forma, reduz a circulação de moeda, mas às custas internas”, afirmou.
A solução mais acertada para a competitividade passa, necessariamente, avalia, pela atração de investimentos o que, atualmente, esbarra na imprevisibilidade no horizonte econômico e na insegurança jurídica gerada pela necessidade do governo de rever renúncias fiscais e de aumentar impostos para equilibrar as contas públicas.
“Enquanto não for resolvido o problema fiscal, dificilmente haverá a volta da confiança”, disse. “E se o agente que quer investir não sabe como o ajuste será implementado, fica se perguntando se alta de imposto ou corte de gastos aumentará ou não”, exemplificou. Por isso, destaca, a solução para o problema da competitividade só será possível quando o governo atacar os desafios atuais no âmbito fiscal.
O especialista julga ser necessário “aproveitar a crise” para se repensar a rota da economia brasileira. Para ele, mesmo que não seja possível resolver os problemas estruturais de pronto, é necessário que o governo adote medidas pontuais para melhorar as condições no curto prazo.
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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