Fechamos 2015 e ainda sentimos a necessidade de falar sobre este ano, além de refletir sobre o que está por vir. Não que não tenhamos já escrito sobre o cenário de 2016 nos últimos Panoramas, mas não totalmente satisfeitos (ou convencidos), ainda tentamos
refletir sobre como foi 2015, um ano que nunca terminava, e como será este, 2016, para muitos, tão caótico como o anterior.
Sobre 2015, vivemos o impasse de uma crise de governabilidade que se manteve resiliente, com importante contribuição da presidente Dilma, no seu contraditório discurso econômico, ora pregando a retomada do crescimento, ora aceitando um ajuste mais duro. Neste ambiente, foi impressionante o processo de esvaziamento do ministro Levy, de início, em tese, o “homem forte” da economia, mas depois cada vez mais fraco. Na verdade, Levy pouco conseguiu emplacar suas ideias. Mal se entendeu com o ministro Nelson Barbosa, do
Planejamento, sendo notórios alguns momentos marcantes.
Um, no primeiro trimestre de 2015, quando não compareceu a uma reunião da Liga Orçamentária, por discordar de um afrouxamento no corte de despesas de R$ 81 bilhões (defendido por ele), outro, depois desta mesma Liga, entre agosto e setembro, enviar ao Congresso uma proposta de déficit fiscal de R$ 30,5 bilhões (0,5% do PIB), meio que à revelia do ministro Levy, que achava esta decisão um “tiro no pé”. Acabamos rebaixados, em seguida, pela Standard & Poor’s, depois, de novo, pela Moody’s, após mais um desencontro da equipe econômica, com Nelson Barbosa e seus assessores propondo uma meta fiscal menor para 2016, enquanto Levy era mais ambicioso, defendendo 1,2% do PIB de superávit.
Acabamos rebaixados por duas agências de rating a grau especulativo e não será surpresa se novos rebaixamentos ocorrerem agora em 2016. Lembremos que ainda falta a Moody’s para nos colocar no clube dos junky bonds.
Ingressamos em 2016, já com Nelson Barbosa na Fazenda, mas ainda cercado de expectativas e desconfianças. De início, Barbosa assumiu uma postura mais “ortodoxa”, com o mesmo discurso de Levy, defendendo o ajuste fiscal e mais do que isto, reformas estruturais, como a da Previdência, urgindo uma solução, mesmo que com período de adaptação. A trajetória das contas da Previdência é explosiva no médio prazo, tendo chegado a algo em torno de R$ 90 bilhões em 2015 e se encaminhando para mais de R$ 120 bilhões neste ano, no pior desempenho das contas públicas. A presidente e o ministro Barbosa, inclusive, já comentaram sobre a necessidade desta reforma, sendo uma das alterações mais importantes a definição da idade mínima de 65 anos, não aceitando mais o “tempo de contribuição”. Para a presidente, inclusive, é um absurdo alguém se aposentar, na média, com 55 anos.
A primeira semana de 2016 não foi nada fácil para os mercados. Tivemos alguma trégua na seara política, visto que o Congresso e o Judiciário estão em recesso, mas na economia a “chapa esquentou”, neste caso, muito mais por influência das incertezas sobre a economia chinesa. Na semana passada vivemos alguns momentos críticos em que o governo injetou recursos no mercado acionário, visando estimular a compra pelos investidores, depreciou o yuan, tentando estimular a economia pelas exportações, e o agente regulador acabou definindo um limite menor para a venda de ações, pelos grandes investidores, antes em 5% do total da carteira, depois reduzido a 1%.
Sobre a situação da China, o mercado se mostra cada vez mais receoso em investir numa economia que não se mostra transparente sobre a real dimensão do seu estado. São crescentes as opiniões de que neste ano de 2016 o PIB chinês não passará de 6,5%, nos próximos não crescendo mais de 6%. O Banco Mundial, em recente pesquisa, estimava algo em torno de 6,7%. O governo chinês até encara esta realidade, dada a mudança do modelo econômico do País, agora mais focado no consumo e na urbanização das grandes cidades do interior, mas sua preocupação maior é evitar movimentos abruptos. Defende mais o chamado soft landing e busca evitar o hard landing.
Mesmo assim, é inevitável que o crescimento menor da China já nos traga problemas para o fluxo de comércio. No ano passado, as exportações de commodiites acabaram afetadas, com o minério de ferro recuando mais de 43% e o petróleo 46%. Isto, no entanto, não afetou a nossa balança comercial, registrando um robusto superávit próximo a US$ 19,8 bilhões, mas, em muito, causado pelo recuo das importações, derrubadas pelo desaquecimento da economia.
Voltando à pesquisa do Banco Mundial, “Perspectivas Econômicas Globais”, as projeções para este ano sobre o Brasil indicam um recuo de 2,5%, depois do tombo projetado de 3,7% no ano passado. Segundo o “bancão”, seremos um dos únicos países a recuar neste ano, a
exemplo da Rússia (-0,7%), envolvida numa guerra civil na Ucrânia. Para 2017, a instituição multilateral projeta alguma recuperação, com crescimento de 1,7% e em 2018 de 1,5%.
Para eles, continuamos envolvidos num ambiente de “incertezas políticas e severo ajuste em meio a variados desafios domésticos”.
Sobre as projeções domésticas como um todo, aliás, incrível como tudo piorou de um ano para cá, segundo pesquisa Focus. Sobre o crescimento do PIB, em janeiro de 2015 as projeções eram de 0,7% para o ano passado, nas mais recentes, recuaram para -3,7%; para
a inflação, de 6,5% para 10,7%; a taxa de juros, de 12,5% para 14,25% e a taxa de câmbio, de R$ 2,70 para R$ 3,90 (já passava de R$ 4,00 nesta primeira semana de 2016).
Continuando nesta toada (e tudo indica que 2016 deve repetir 2015), novos sustos nos esperam para este ano.
Fonte: Focus.
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