Estudos recentes apontam que a retomada econômica brasileira, mesmo em meio à pandemia pelo novo coronavírus, está começando a acontecer. No Norte e Nordeste, um dos principais fatores apontados para a recuperação é o auxílio emergencial.
De acordo com o IBGE, 15 dos 16 estados dessas duas regiões já ultrapassaram, com sobras, o nível pré-pandemia, especialmente no comércio. O resultado foi inflado pelo aumento do poder de compra da população.
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O professor de economia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Écio Costa analisou os impactos do benefício nas vidas das famílias, em entrevista à Folha de São Paulo. Ele identificou que muitos grupos familiares tinham a renda muito baixa, e com o pagamento do auxílio, passaram a receber salários de até R$ 1,8 mil.
“De uma hora para outra, isso possibilitou a compra de alimentos, itens de higiene pessoal e material de construção civil, antes incessáveis, com impactos importantes na economia de várias cidades”, disse.
Um bom exemplo na mudança de consumo da população do Norte e Nordeste, citado pelo especialista, é o de Santarém Novo, no Pará.
“O dono de um açougue da cidade abriu uma farmácia, pois ganhou muito dinheiro vendendo carne às famílias que não consumiam carne bovina antes. Muitas das habitações mais humildes do município passaram por reformas. Tudo isso fruto do auxílio”, explicou.
Fraudes nos programas sociais
Embora os programas sociais sejam responsáveis por inúmeros benefícios na vida da população de baixa renda, e por vezes até para a economia, como o caso do auxílio emergencial, as constantes fraudes no sistema impedem o avanço dos benefícios.
Em recente entrevista ao Millenium, o mestre em economia Mauricio Bento, explicou como esse tipo de irregularidade é prejudicial para o país.
“A Procuradoria Geral da União fez um compilado e viu que 2.999 servidores públicos ao redor do Brasil estavam recebendo o Auxilio Emergencial. Há problemas no cruzamento de base de dados, apesar do Governo Federal ter um Cadastro Único, que ajudou a evitar fraudes no passado, em alguns casos ele ainda se demonstra pouco efetivo. Por exemplo, nós podemos ter uma base de dados impedindo servidores de estados, municípios e até federais de receber esse tipo de benefício, porque obviamente, se é servidor público, tem um emprego formal, uma renda mais alta e não se enquadra em estado de pobreza ou desempregada”, disse.
Bento acredita que a melhor forma de prevenir casos de fraude é com o cruzamento de base de dados antecipado, ou seja, feito antes da liberação dos benefícios para os usuários. “Apontando esse caso da Controladoria Geral da União, eles pegaram a posteriori que 2.999 servidores estavam recebendo, mas isso deveria ter sido feito a priori, para impedi-los de receber. Registrando o CPF desses servidores junto ao sistema e cruzando essas bases de dados”, destacou.