No dia 15 de maio, a “Folha de S. Paulo” estampou notícia que logrou êxito incomum envolvendo o ministro da Casa Civil. Dia seguinte, todos ou quase todos os meios de comunicação repercutiram a revelação feita pelo jornal paulista. E não era para menos. Dizia-se sem meias palavras que o ministro Antonio Palocci, proclamado como o primeiro-ministro no atual governo, indicado, como é notório, pelo ex-presidente, em pouco tempo, graças a milagroso escritório de consultoria, amealhara respeitável fortuna: “Palocci multiplicou por 20 patrimônio em quatro anos”, “Empresa de Palocci faturou R$ 20 milhões em ano eleitoral”, “Em dois meses após eleição, Palocci faturou R$ 10 milhões”.
Sem falar na compra de um apartamento pela bagatela de R$ 6,6 milhões. E quando se esperava que o ministro esclarecesse caso por caso, a nação ficou a saber que ele nada diria a respeito em nome do princípio da confidencialidade (sic), pelo qual um pacto entre partes estabelece uma cortina de opacidade em assuntos que não são propriamente privados porque envolvem um parlamentar e um ministro putativo já acompanhando a formação do novo governo do qual ele seria pars magna.
A divulgação dessa atitude, como era de esperar, causou estupefação e não fez senão aumentar suspeitas, presunções e maledicências. O raciocínio do homem comum lucubrava, espantado, se o negócio é limpo por que virar secreto, se é sigiloso como pode ser limpo? Cada dia que passava, a situação do ministro se agravava, e o agravante era ele próprio pelo inacreditável por ele decretado. Ao mesmo tempo, o governo ostensivamente procurava amparar o poderoso ministro que colocara a corda em seu pescoço. E nessa atmosfera política e moral, os dias se passaram, tristes e constrangedores.
Pessoas de variada expressão ligaram-se nessa aventura deplorável, mas outras, mesmo ligadas ao ministro pelos laços partidários, se recusaram a sair em defesa de quem se mantinha estranhamente decidido a não esclarecer os fatos que lhe diziam respeito, permanecendo em olímpico silêncio. Até que a taça encheu e entrou a derramar. O ministro consentiu em dar uma entrevista à TV Globo e, durante uma hora, em horário nobre, não disse uma só novidade. Confirmou o pacto de silêncio a envolver a operação que lhe permitira encher as burras de ouro e disse e repetiu que pagara ao fisco municipal, estadual e federal tudo quanto lhes devia a respeito da sigilosa operação, sem mostrar comprovantes.
O que parece certo é que a cabeça do ministro ficou a prêmio, e o governo teve a ideia de pedir ao procurador-geral da República para dizer se havia crime ou não no acervo até então conhecido. E não tardou o pressuroso procurador a dizer que não, e a partir dele o ministro anestesiado podia ser decapitado sem correr sangue. Vale ressaltar a indagação que ninguém fez: o procurador teve acesso aos papéis sonegados à nação ou, como esta, teria ficado a ver navios?
O capítulo final é de ontem e o país o acompanhou. Passaram três semanas de tensão e inquietação até o feliz desfecho. Tudo com muita elegância. Especialmente sem sangue. Os elogios finais foram comovedores. De agora em diante uma comandita pode constituir-se em societas sceleris, para, sob a cláusula do silêncio pactício, por tempo indeterminado, importar e distribuir drogas para todos os gostos, empreender o comércio de mulheres, fraudar concorrências públicas, e de muitas outras atividades que não poderão nem deverão ser divulgadas, razão por que um pacto de silêncio caiu sobre elas e dessa maneira, esquecidos do princípio da publicidade sacrificado em benefício da confidencialidade (sic), dar curso a atividade sigilosa. Ensina a sabedoria popular que entre homens de honra, basta o fio de bigode…
Como me disse um amigo, homem de experiência e saber, tudo que aconteceu lembra um baile de máscaras, onde todos se enganam e são enganados, graças às máscaras usadas com arte e graça.
Fonte: Zero Hora, 13/06/2011
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