O ano que se vai tem sido intenso, principalmente no cenário internacional. Na verdade, desde 2008 os países desenvolvidos têm apresentado sobressaltos inéditos que tem levado à trajetória de muita volatilidade nas taxas de câmbio, por exemplo. Ninguém imaginaria que a relação dólar/euro poderia escorregar para baixo de 1,2 e depois subir vertiginosamente para acima de 1,4.
Tais mudanças abruptas não são comuns nesses países, que tem se tornado cada vez mais parecido com seus colegas emergentes.
No vai e vem de 2010, a grande incógnita tem sido a Europa. Fruto de uma paralisia de decisão, natural em uniões apenas monetárias, os países da Zona do Euro padecem de dificuldades inerentes a existência de países em momentos distintos de produtividade e política fiscal.
Para uma Alemanha que fez reformas econômicas e tem números fiscais robustos, temos exemplos inúmeros de Grécia, Portugal e congêneres com situação econômica oposta.
A única solução para a Europa continua sendo uma união fiscal para valer, que parece impossível nesse momento. Por isso, a turbulência que grassou no velho continente este ano estará rondando os mercados ainda em 2011.
Enquanto isso, os EUA mostraram uma economia mais vibrante que tem tudo para uma recuperação bem mais significativa no ano que se aproxima. Vale dizer que a recente tendência de valorização do dólar em relação a outras moedas tende a continuar.
No Brasil, todos os olhos estiveram voltados para as eleições. A grande novidade foi uma transição política sem maiores intempéries na economia, coisa relevante de se registrar pelo histórico brasileiro de incertezas sobre os novos governantes.
Por conta disso, a economia deverá fechar com um crescimento recorde do período Lula, obviamente ajudado por uma base de comparação medíocre. Uma das notas negativas fica para a inflação e a condução da política monetária.
Num ano em que as vocações políticas do presidente do Banco Central trouxeram incertezas sobre as reais razões da estabilização da Selic em meados do ano, o resultado foi uma inflação que baterá nos 5,8%, com riscos concretos de ainda ficar acima de 5% em 2011.
Outra nota baixa para o governo foi a política fiscal. O excesso de truques para forçar o superávit primário não será suficiente para se atingir a meta de 3,1%.
O prejudicial disso é que não ter uma política fiscal limpa coloca em risco não apenas entender o que poderia ser um ajuste fiscal verdadeiro, mas também implicaria possibilidades de aumento de receita para conseguir fechar a conta.
Ou seja, entregaremos 2010 com a clara necessidade de fazer receita num ano de crescimento mais baixo. O resultado eventual poderá ser a volta da CPMF, por exemplo.
No líquido, o ano trouxe mais custos do que benefícios. Os 7,3% de crescimento se tornam um véu numa economia que começa a se desorganizar novamente. O que significa dizer que a nova equipe econômica terá mais trabalho do que muitos esperam. Resta saber se estará a altura desses desafios.
Fonte: Brasil Econômico, 27/12/2010
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