A implementação da agenda BC+, conjunto de medidas para baixar o custo de crédito no país, tem potencial de reduzir o spread bancário (diferença entre o custo de captação do dinheiro no mercado e quanto as instituições cobram dos clientes) em quase 15%. Essa é a expectativa do Banco Central, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. Assim, o Índice de Custo do Crédito (ICC, que mede o custo das operações ativas no mercado) cairia dos atuais 21,5% ao ano para 19,4% ao ano, em média, para todos os tomadores do Brasil, sejam eles empresas ou famílias.
Pelas contas do BC, os bancos pagam hoje 7,2% ao ano para captarem recursos. Esse custo está em queda porque o próprio Banco Central tem reduzido gradativamente a taxa básica de juros (Selic), o que torna o dinheiro mais barato para as instituições financeiras. No entanto, na hora de repassar para o cliente, elas cobram muito mais. A diferença disso _ que inclui custos, risco de inadimplência e o lucro dos bancos _ é de 14,3 pontos percentuais. Em dezembro de 2014, por exemplo, o valor era de 11,81 pontos percentuais. De lá até o início do ano passado, o número só aumentou por causa das incertezas econômicas vividas pelo país.
O BC quer que isso chegue a 12,2 pontos percentuais (redução de 14,7%) apenas com as medidas desenhadas pela autarquia para melhorar a regulação e aumentar a concorrência.
— A gente trabalha para o maior resultado possível — contou uma alta fonte do governo sob a condição de sigilo.
O Brasil já fez várias tentativas de reduzir o spread. A última, feito pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2012, fracassou. Ao contrário do que era pretendido, ele cresceu apesar da queda da inadimplência no país.
Dilma tentou usar os bancos públicos para forçar uma concorrência no setor e ainda reduziu a Selic mesmo com a inflação alta. As medidas foram classificadas como populistas pela maioria dos analistas do mercado financeiro. Com essa experiência na bagagem, o BC tenta, agora, uma fórmula diferente. Quer ajustar a regulação do sistema financeiro para promover uma maior racionalidade entre os clientes e estimular a competição.
A percepção é que os bancos não têm estímulos para mexer na parcela onde está o lucro se não tiver um ambiente de negócios mais favorável. O primeiro passo da estratégia do BC foi cortar os subsídios dos juros do BNDES. Uma lei foi aprovada no ano passado para isso. Depois, o Banco Central tentou atacar a bola de neve de prejuízo de quem fica pendurado no rotativo do cartão de crédito.
Agora, estão na pauta o projeto para redução dos juros do cheque especial, a revisão do custo do cartão débito, ajustes no cadastro positivo, mudanças no sistema de garantias, o fortalecimento de bancos pequenos e médios e registros eletrônicos de garantias.
— Tem muita coisa que depende do Congresso e tem outras coisas que são difíceis de mensurar o impacto no sistema, como a criação do cadastro positivo, mas o conjunto todo é muito bom. É factível essa queda esperada — afirma o economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini.
Ele cita o próprio caso como exemplo. Buccini afirma que nunca pegou empréstimo e que, por isso, não tem histórico de bom pagador. Como o cadastro deve incluir outros pagamentos como as contas de água e luz, já teria uma nota alta. Ele alerta, no entanto, para o fato de que a agenda é ambiciosa e precisa ser priorizada pelo próximo governo também:
— São medidas que não são nada populistas como no governo Dilma Rousseff. É mexer nas microestruturas do sistema financeiro nacional e isso demora para aparecer. Essa queda de 15% não deve surgir de uma hora para outra. A agenda é ambiciosa e tem de ser para o próximo governo também.
Fonte: “O Globo”