O Banco Central (BC) afirmou na última terça-feira que vê uma recuperação parcial na atividade econômica, mas ainda enxerga elementos que dificultam a previsibilidade da retomada da economia. A informação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pelo corte da taxa básica de juros, Selic, de 2,25% para 2%.
Na ata, o Comitê apontou que a pouca previsibilidade para a atividade econômica leva em conta dois fatores: a evolução da pandemia e o comportamento da economia diante do fim do auxílio emergencial.
Dessa forma, o Copom analisou que as incertezas podem implicar em uma retomada “ainda mais gradual” da economia. Ou seja, a velocidade da recuperação econômica depende da expansão ou arrefecimento da pandemia e do comportamento da economia diante da diminuição dos efeitos do auxílio emergencial.
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“Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”.
O documento ainda aponta que a recomposição da renda do auxílio emergencial permitiu uma retomada “relativamente forte” do consumo de bens duráveis e do investimento. No entanto, o setor de serviços, que tem maior peso no PIB, permanece como um dos mais afetados pela pandemia.
“Assim como no caso da atividade, o Comitê considera que a pandemia deve continuar a ter efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos. Dada a natureza do choque, o setor de serviços deve continuar a apresentar maior ociosidade que os demais”.
A partir da ociosidade maior nos serviços e do impacto desigual da pandemia em setores diferentes, o Comitê vê que as “pressões desinflacionárias” podem ter duração maior do que em recessões anteriores. Com o impacto da pandemia, a demanda e o consumo diminuem, reduzindo a inflação.
O boletim Focus, que reúnes as projeções do mercado para os principais índices econômicos, mostra uma expectativa de que a inflação fique em 1,63% em 2020.
A meta de inflação para 2020 é de 4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Caso a projeção do mercado se concretize, a inflação ficaria abaixo do piso da meta.
Nessa situação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deverá escrever uma carta pública ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando os motivos do descumprimento.
Quanto ao PIB, a projeção do governo para este ano é uma queda de 4,7%. Para o mercado, a expectativa é que a economia tenha uma redução de 5,62% em 2020 e uma recuperação de 5% no ano seguinte, segundo o boletim Focus.
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‘Forward guidance’
No documento, o Copom explica que decidiu cortar a Selic em 0,25 pontos para 2% e acenar com a possibilidade, mesmo que pequena, de nova redução, pois a inflação projetada por seus modelos e pelo mercado segue abaixo das metas.
No entanto, o colegiado também explica que já estamos em um patamar de juros no qual reduções adicionais poderiam deixar de produzir o efeito desejado. Por isso, o Comitê decidiu lançar mão de uma ferramenta já usada por outros bancos centrais do mundo – o forward guidance, ou seja acenar ao mercado o que o BC pretende fazer em um janela de tempo mais alongada.
Dessa maneira, o Banco Central acenou que não pretende subir o juro tão cedo, mas também ponderou que o uso dessa ferramenta em economias emergentes é mais limitado. No caso brasileiro, o ponto de incerteza que poderia levar o BC a abandonar o forward guidance é a questão fiscal.
Segundo o BC, uma “ruptura” no regime fiscal implicaria em alterações “significativas” para a taxa de juros estrutural da economia. Em outras ocasiões, a autoridade monetária já vinha ressaltando que gastos de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada podem elevar os juros.
Ainda nesta questão, o Copom ressalta que possíveis novas reduções dos juros exigiriam cautela e “gradualismo adicionais” por conta dos riscos que uma nova realidade de juros mais baixos representa para o funcionamento do sistema financeiro e do mercado de capitais.
“Se necessárias, novas reduções de juros demandariam maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas e poderiam ser temporalmente espaçadas”.
Fonte: “O Globo”