Era mais do que evidente que os grandes bancos privados não entregariam de mão beijada para o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal a parte do mercado que eles levaram anos para conquistar. Essa foi, portanto, a principal razão que os levou a seguir o exemplo das instituições estatais e podar as taxas cobradas sobre as operações de crédito.
É claro que o recuo funcionou, também, como o aceno de uma bandeira branca em direção ao governo – depois da atitude pouco habilidosa (para dizer o mínimo) do presidente da Febraban, Murilo Portugal, na semana passada.
Chamado a discutir a questão dos juros com o governo, Portugal quis estabelecer as condições num cenário em que seu poder de barganha era praticamente zero.
Naquele momento em que a entidade que representa os bancos foi chamada para conversar, como se sabe, os bancos oficiais já tinham seguido a orientação do governo e baixado suas taxas.
O melhor a fazer naquele instante seria pedir um tempo para entender a nova realidade. Mas Portugal preferiu criticar os impostos elevados, o depósito compulsório recolhido ao Banco Central e o aumento da inadimplência em algumas modalidades de financiamento.
Como os bancos privados tomaram a iniciativa de reduzir seus juros sem que o governo se dignasse a atender qualquer uma dessas condições, a baixa das taxas anunciada ontem foi vista por muita gente como uma capitulação – quando poderia ter sido considerada, caso viesse de uma outra maneira, um gesto simpático de boa vontade.
Ponto para o governo – e, pelo que tudo indica, o esforço de redução não ficará por aqui. Ontem, o Comitê de Política Monetária se reuniu para confirmar aquilo que todo mundo já sabia.
A taxa básica de juros foi reduzida para os mais do que esperados 9% ao ano – o que representa um juro real de aproximadamente 3,4% ao ano, levando-se em conta a expectativa de inflação. O número tira do Brasil o título de campeão mundial dos juros.
O país, agora, é vice-campeão, atrás da Rússia, que tem um juro real de 4,2%, conforme mostra a repórter Natália Flach na edição de hoje do “Brasil Econômico”. Que ninguém se espante se nas próximas semanas não surgirem medidas que puxem a taxa um pouco mais para baixo.
Tudo estaria muito bom se não fosse por um detalhe. Portugal pode, sim, ter sido inábil não apenas na forma como, também, na escolha do momento em que se pronunciou. Mas ninguém pode negar que as críticas feitas por ele são pertinentes.
Sim: os impostos cobrados sobre as operações de crédito acabam pesando, e muito, no bolso de quem levanta um empréstimo no banco ou entra no limite do cheque especial.
Sim: o recolhimento compulsório de parte do valor dos depósitos bancários aos cofres do Banco Central contribui para explicar, sem dúvida, o tamanho dos juros no Brasil.
A indexação prevista nos contratos, o risco das operações e mais um monte de penduricalhos embutidos na legislação brasileira ajudam, da mesma maneira, a explicar o tamanho das taxas.
E enquanto o governo não tocar o dedo na ferida e fizer uma reforma radical no sistema ninguém poderá falar que os juros baixos de hoje não crescerão de uma hora para outra e voltarão a assombrar a quem precisa de crédito.
Fonte: Brasil Econômico, 19/04/2012
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