Nelson Barbosa ficou chateado com minha última coluna.
Acha que é perseguição pessoal. Sinto decepcioná-lo, mas, como diria Michael Corleone, “it’s not personal; it’s strictly business”. O fato é que Barbosa tem sido porta-voz ativo de um conjunto de ideias particularmente destrutivo; meu papel é apenas apontar isto, principalmente quando Barbosa finge que não tem nada a ver com a crise pela qual passamos.
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Além de ministro no governo Dilma, quando, em meio à dramática recessão da qual apenas recentemente emergimos (apesar de sua garantia em 2015 que seria rapidamente superada), se gabava de ter feito a maior contingenciamento de gastos da história, Barbosa esteve diretamente implicado na experiência da assim chamada Nova Matriz Econômica, NME.
A NME se manifestou em várias dimensões. Do lado fiscal transformou um superavit primário recorrente (isto é, sem “pedaladas”, receitas extraordinárias etc.) da ordem de 2% do PIB no triênio 2006-2008 em deficit de 1,2% do PIB já em 2014, por força de aumento de gastos primários e desonerações injustificadas, sem qualquer elevação do investimento público, muito pelo contrário.
As desonerações, aliás, tiveram efeitos ainda piores do que apenas a deterioração das contas públicas. Como basicamente foram concedidas na base de quem gritava (ou chorava) mais, incentivou o comportamento de caça à renda (rent-seeking), cujos efeitos negativos sobre o crescimento da produtividade explorei em outra coluna.
Já a política microeconômica conseguiu ser ainda pior do que a macro.
Regras de conteúdo nacional, a nova tentativa de recriar a indústria naval, a política de créditos subsidiados do BNDES, os estímulos à compra de caminhões, a gestão desastrada do setor petrolífero, a intervenção no setor elétrico e a devastação do setor sucroalcooleiro compõem uma amostra parcial das iniciativas de políticas setoriais adotadas enquanto Barbosa ocupava diferentes cargos na alta hierarquia do Ministério da Fazenda.
À luz desse impecável currículo, seria de se esperar que Barbosa, agora afastado (ainda bem!) de qualquer cargo de responsabilidade pela condução da política econômica, examinasse
sua extensa capivara de equívocos e tentasse aprender algo de útil.
Não foi o caso.
Ele segue como defensor das mesmas políticas que nos levaram à crise. Em artigo recente, por exemplo, defende liberar R$ 18 bilhões.
Por outro lado, apoia aumento da tributação e invoca artigo de Alberto Alesina, o qual, suspeito, não deve ter lido mais do que o resumo, visto que nele se afirma que ajustes baseados em cortes de gastos têm efeitos recessivos moderados e de pouca duração, enquanto aqueles que se amparam em elevações de impostos apresentam efeitos recessivos mais profundos e persistentes.
Mais recentemente reclama da velocidade de recuperação da economia, a mesma recuperação que jurava ser impossível por força do “austericídio”, e recomenda… aumento de gastos, seu elixir de óleo de cobra para qualquer ocasião.
Tais ideias têm que ser combatidas e, se Barbosa resolveu ser seu arauto, seria bom também se acostumar com as críticas, em particular sobre sua competência para educar qualquer um, que está severamente comprometida por sua visível incapacidade de aprender com seus próprios erros.
Fonte:”Folha de S. Paulo”, 18/12/2017
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