Reportagem de Cristiano Romero e Alex Ribeiro no Valor Econômico faz um valioso trabalho de contar os bastidores do Banco Central na condução da crise no ano passado. Com uma longa e detalhada entrevista com o diretor de política monetária Mário Torós, percebe-se o manejo técnico do BC em momentos de tensão. O texto até me faz lembrar o livro de 2002 “Vexame – os bastidores do FMI na crise que abalou o mundo” de Paul Blustein, outro bom jornalista econômico. A condução serena e correta por pouco corria o risco de não acontecer, com o episódio da quase demissão de Henrique Meirelles poucos meses antes do estouro da crise atual.
Um dos aspectos que se sobressai na matéria de Romero e Ribeiro é a falta de harmonia entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Pela história contada na reportagem – claro que tendo como fonte principal o BC e não a Fazenda, o que daria uma boa suíte saber o outro lado – o BC trabalhava silenciosamente e raras vezes a equipe de Guido Mantega contribuía, com honrosa exceção de Bernard Appy. Mantega também fez a barbeiragem, de acordo com a reportagem, de revelar estratégia de preservação das reservas:
“A resistência do BC e do presidente da República em queimar reservas era, até então, uma informação estratégica, mantida em segredo dentro do governo. O mercado não podia saber, em hipótese alguma, que o BC negaria munição. Mas no dia 6 de outubro, uma segunda-feira, o ministro Guido Mantega disse, em entrevista, que Lula proibira o BC de gastar reservas. O efeito no mercado foi imediato. A cotação do dólar saltou de R$ 2,19 para R$ 2,45 em menos de 48 horas. O ingrediente final foi uma corrida bancária, que se originou em outros países do mundo e atingira o Brasil. Torós fez seu diagnóstico definitivo: era preciso vender dólar no mercado à vista. E imediatamente.”
Vale a pena ler a matéria completa (restrita a assinantes). O BC construiu, ao longo dos anos, uma respeitabilidade grande, de condução técnica da economia. Mais uma vez fica patente a diferença na atuação do governo quando coloca gente técnica e com responsabilidade e metas definidas e quando simplesmente loteia cargos, substitui ações por discursos e aparelha tudo o que é possível simplesmente para se manter no poder. É o apagão gerencial que vivemos e resulta na pífia execução do PAC e nos blecautes que ninguém é capaz de identificar a causa.
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