Parece que este governo está com problema sério de comunicação. Na semana passada, depois da ata do Copom, moderada, falando de gradualismo, um diretor do Bacen veio a público defendendo a necessidade de um ajuste mais intenso na política de juros. Disse ele que “o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento da política monetária (taxa Selic).” Ou seja, praticamente colocou a ata de lado.
Nas suas argumentações pesaram fatores negativos, como resquícios de choques desfavoráveis, domésticos e externos, na alimentação no ano passado; depreciação do real em 2012; salários pressionados, ainda mais com os reajustes do salário mínimo em torno de 14,3% nestes dois anos; mix de políticas, fiscal e monetária, expansionistas, dentre outras. Pelo lado dos positivos, entrada de safra agrícola recorde, o câmbio estável em R$ 2,00 e o arrefecimento nos preços dos imóveis.
Antes, outro diretor, que havia votado no Copom pela manutenção da taxa Selic, argumentou que o havia feito por discordar do melhor timing para elevar o juro. E o pior é que ambos os diretores falaram com autorização do presidente do Bacen, Alexandre Tombini!
Afinal, por que tantas declarações paralelas? A ata do Copom não seria suficiente? Não seria melhor o presidente do Bacen assumir um discurso uníssono?
A impressão que se tem é que o governo está “batendo cabeça” diante da deterioração de expectativas em curso. A perda de confiança se espalha como “rastilho de pólvora” e isto, em algum momento, resultará em mais inflação. O fato é que esta deterioração das expectativas se dá num momento em que alguns fundamentos econômicos também começam a derrapar.
No front das contas externas, o saldo em conta corrente surpreendeu em março, com déficit de US$ 6,9 bilhões, acumulando US$ 24,8 bilhões no ano, mais que o dobro do mesmo período de 2012 (US$ 12,1 bilhões). A balança comercial deficitária teve importante contribuição, assim como a piora nas contas de serviços e de renda, com aumento de remessas, despesas de transportes, de viagens internacionais, dentre outros.
Sobre a balança comercial, o saldo negativo até a terceira semana de abril, de US$ 6,5 bilhões, teve grande contribuição das importações atrasadas de petróleo do ano passado (só registradas neste início de 2013). Destaquemos também a queda disseminada de preços em cerca de 60% dos produtos exportados, fruto de uma demanda externa mais retraída, ou desacelerando como no caso da China. No primeiro trimestre deste ano 20 dos 31 grupos de produtos exportados (64% do total) registraram redução nos seus preços de venda. Tanto produtos manufaturados, como commodities – destaque para soja, café e açúcar -, registraram queda nas suas cotações, diante do crescimento menor da demanda global.
Somado a isto, o ingresso líquido de investimentos externos diretos (IED), embora em bom volume em março (US$ 5,7 bilhões), no acumulado em 12 meses se mostrou insuficiente para financiar o rombo externo. Este fechou em US$ 67,0 bilhões, 2,93% do PIB, enquanto os IED registraram US$ 63,5 bilhões (2,78%). Com isto, a necessidade de financiamento externo aumentou um pouco, saindo do campo negativo e registrando 0,15% do PIB.
Numa visão mais macro, esta piora externa é decorrente de problemas pontuais (importações de petróleo de 2012 só registradas em 2013 e perda de rentabilidade das exportações) e de excessos de consumo do governo e das famílias em relação ao nível de renda, reduzindo a poupança doméstica e elevando a externa, via déficit em conta corrente. Acontece então um vazamento de renda, gerado pelos excessos da demanda agregada doméstica, com os agentes recorrendo às importações.
Mantidas as “condições atuais de temperatura e pressão” da economia brasileira, no resgate ao chamado ceteris paribus, se não ocorrerem grandes mudanças na política econômica doméstica, este quadro externo tende a ser preocupante no médio e longo prazo. No curto prazo pode ser considerado administrável, dado o grande cobertor de reservas cambiais existente, em torno de US$ 377 bilhões. A realidade dos fatos, no entanto, nos leva a crer que o governo, observando esta situação de deterioração, em algum momento adotará medidas para reverter este quadro.
No front fiscal, a situação também é preocupante, dado o avanço das despesas, na sua maioria para a manutenção da máquina pública e pouco em investimentos, com arrecadação federal insuficiente, diante das últimas desonerações e o crescimento menor da economia. Além disto, como noticiado na semana passada, no envio da LDO ao Congresso passou-se a considerar, no resultado fiscal dos governos regionais, o abatimento dos investimentos e as desonerações, dando-os maior capacidade de manobra para apurar um resultado fiscal mais fraco que o previsto. Ressaltemos que estas esferas de governo já estão, praticamente, rasgando a Lei de Responsabilidade Fiscal, por permitir o aumento das despesas com pessoal acima do limite de receita em 60%.
Sendo assim, claramente, segue a economia brasileira guiada por um modelo de excesso de consumo, tanto do governo como das famílias, política fiscal mais frouxa e setor externo em deterioração, o que só tende a sobrecarregar o BACEN no papel de balizador de expectativas e guardião da inflação. Tarefa pesada e muito complicada, ainda mais quando se sabe que as diversas áreas do governo já não falam a mesma língua.
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