Às vésperas da reunião do Copom, em que se acredita que o Banco Central pode subir mais uma vez os juros, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, disse em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, que o BC brasileiro estrangula a economia. Para ele, a política monetária do Brasil deveria se contrapor aos efeitos depressivos da queda do preço das exportações e da Operação Lava Jato.
“Vocês têm uma das mais altas taxas de juros no mundo. Se o Brasil reagisse à queda no preço das exportações com medidas contracíclicas, o país talvez pudesse ter evitado a intensidade da atual crise. Outra questão é que, sempre que ocorrem escândalos de corrupção da magnitude do que acontece agora no Brasil, a economia é jogada para baixo. Isso cria uma espécie de paralisia”, afirmou o economista em entrevista a Agência Estado.
“O sistema legal no Brasil está colocando muita gente na prisão”, disse Stiglitz. “Não estou dizendo que não deveriam fazer isso, mas a política monetária deveria reconhecer que este é um período em que haverá restrição de gastos, particularmente no setor público, em que as pessoas serão mais cautelosas em tomar decisões, em que a construção civil vai se contrair”.
Sobre o quadro mundial, o economista avalia que a economia terá desempenho em 2016 igual ou pior ao de 2015. “Há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse por ela, a economia teria sido fraca”, afirmou.
Segundo ele, há quatro razões básicas para a demanda reduzida. “A primeira é a desigualdade. As pessoas no topo não gastam tanto (como parte da sua renda) quanto as pessoas na base. Então, à medida que a desigualdade cresce, a demanda se enfraquece”, explicou.
“Em segundo lugar, há transformações estruturais acontecendo em quase todos os países. Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os serviços. Na China, das exportações para a demanda interna. Mas os mercados são duros em conduzir essas transições. Tem sempre gente que fica para trás, o que contribui para a desigualdade. Os setores que ficam para trás não podem demandar bens”, avaliou.
“Em terceiro lugar, a zona do euro está uma bagunça, com políticas econômicas que contribuíram para reduzir o crescimento”. O quarto fator, segundo o economista, é a queda do preço do petróleo.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 20 de janeiro de de 2016
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