O Banco Central foi mais longe na queda dos juros do que Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais da instituição, imaginava no início do ciclo de cortes da Selic. “Em circunstâncias normais, é a primeira vez que temos juros reais tão baixos. Estamos navegando em mares que ainda não conhecemos.”
Ele, que já havia revisado a perspectiva de crescimento do PIB deste ano para 2,5%, disse que os dados recentes de queda do IBC-Br – índice do Banco Central que é uma prévia do PIB – são preocupantes.
O economista também avalia que o balanço dos dois anos do governo de Michel Temer é positivo, apesar de não ter conseguido entregar a reforma da Previdência. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Estadão – Como interpretar a trajetória recente de corte de juros?
Alexandre Schwartsman – A verdade é que o Banco Central foi mais longe do que eu imaginava ser possível no começo do ciclo de corte dos juros e parece razoável parar agora. Em condições normais, é a primeira vez que o Brasil tem juros reais em patamares tão baixos. Estamos navegando em mares que a gente ainda não conhece.
Estadão – O mercado tem revisto a previsão de crescimento, após dados negativos, como o IBC-Br, que teve queda de 0,13% no trimestre. Você está mais pessimista?
Alexandre Schwartsman – Eu já projetava um crescimento de 2,5%. É que o primeiro trimestre deste ano foi bem ruim, de maneira geral. O mercado esperou para ver e está revendo agora. Eu vou esperar mais um pouco antes de fazer qualquer revisão. Acho que é possível revisar esse número após a divulgação do PIB do segundo trimestre. Mas o crescimento este ano vai ser melhor do que o do ano passado? Sim, muito provavelmente será.
Estadão – A volta dos investimentos não está sendo mais lenta do que se imaginava?
Alexandre Schwartsman – A volta dos investimentos, em alguma medida, está acontecendo. A manutenção disso vai depender de qual governo o Brasil terá a partir do ano que vem. Se tiver um que freie os processos reformistas, o risco país vai para cima e parte disso pode ser revertido.
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Estadão – Qual é o seu balanço dos dois anos de governo Michel Temer?
Alexandre Schwartsman – Na média, é positivo. Como parte das boas notícias, houve o avanço do governo em reformas, como a trabalhista e a implementação da regra do teto de gastos públicos. Essa mudança do cadastro positivo também vai no sentido correto e pode diminuir o spread bancário, no caso da pessoa física. A gente também teve uma mudança potencialmente importante nos rumos do BNDES, com a migração da TJLP (taxa de juros de longo prazo) para a TLP. As mudanças nas estatais também foram positivas. As alterações que ocorreram na diretoria da Caixa não impedem que apareça um outro Geddel Vieira Lima, mas dificultam.
Estadão – E o lado negativo?
Alexandre Schwartsman – É que o Planalto tenha falhado em aprovar a mudança na Previdência e não tenha avançado na melhora da governança do País, só manteve o modus operandi anterior. Parte do mérito nessa questão da Previdência é o governo ter preparado o terreno para que o próximo presidente continue por esse caminho. Alguns malucos ainda dizem que a Previdência não tem déficit, mas entre quem interessa, essa discussão está razoavelmente bem encaminhada. Eu daria uma nota 6,5 para o governo Temer. Dá para passar de ano, mas raspando.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”