Desde a sua concepção, o projeto da Usina Hidroelétrica (UHE) de Belo Monte é alvo de polêmicas por ser considerada um empreendimento de alto impacto ambiental, com implicações diretas sobre a população e comunidades indígenas. O peso das discussões, na maioria das vezes negativas, revela desconhecimento a respeito da verdadeira importância do empreendimento para o setor elétrico, para a sociedade e para o país.
Na década de 70, quando se iniciaram os estudos da usina, as discussões acerca do empreendimento já eram intensas e polêmicas. Diga-se de passagem, Belo Monte é considerado o projeto hidroelétrico mais estudado da história do sistema elétrico brasileiro. Com a consolidação dos estudos, o projeto se mostrou como fundamental para a garantir o abastecimento através de uma energia renovável e competitiva para o país. A construção da usina uniu os órgãos federais competentes para definir todas as características e particularidades do projeto, considerando os aspectos ambientais e socioeconômicos, os impactos sobre os indígenas e outras comunidades tradicionais da região.
Para atender todas as exigências de cunho social e ambiental, o projeto final da UHE Belo Monte se diferenciou, e muito, do original. A configuração do projeto incorporou medidas que incluíram uma redução expressiva da área do reservatório. Sendo que a principal foi enquadrar o empreendimento como uma usina a fio d’água. Uma decisão polêmica na medida que ao abrir mão de uma usina com reservatório, penalizamos gerações futuras de brasileiros, deixando de gerar mais energia renovável a preços menores e de dar maior segurança ao sistema.
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Por meio de um leilão, realizado em 2010, a usina foi arrematada pela Norte Energia que assumiu o compromisso de implantar o projeto dentro da concepção definida pelo governo, tendo como contrapartida a concessão do empreendimento por 30 anos. Ainda assim, ao longo dos 8 anos da sua construção, o projeto foi e continua sendo mal compreendido por setores da sociedade, governo e do Ministério Público.
Toda essa discussão gira em torno de uma usina hidroelétrica, destinada a gerar eletricidade a partir das águas do Rio Xingu, no Pará. Ou seja, pode parecer óbvio, mas vale esclarecer que a fonte hídrica é, também, renovável. Na corrente da tendência global, o Brasil prega a ampliação da participação das renováveis na matriz elétrica nacional, o que faz todo sentido. No entanto, é incoerente a frequente oposição à Belo Monte. O equívoco está em considerar-se apenas as fontes eólica e solar como limpas, ignorando o fato de a fonte hídrica estar inclusa no grupo das renováveis.
A matriz elétrica brasileira, ao contrário da mundial, é baseada em fontes renováveis de energia, devido a predominância hídrica na geração. Contudo, apesar da defesa pela ampliação das renováveis, a participação da fonte hídrica na matriz elétrica vem se reduzindo e o planejamento energético tem encontrado dificuldade para suportar a nova configuração da matriz. Por isso, é válido destacar que a opção pela fonte se deu pela disponibilidade, viabilidade ambiental, baixos índices de emissões de gases de efeito estufa e confiabilidade no suprimento.
Projetada para atingir uma capacidade instalada total de 11,233 GW, a usina, que começou a gerar energia comercialmente em 2016, atualmente opera com 7,556 GW de capacidade instalada. A UHE já fornece quantidade considerável de energia limpa ao Sistema Interligado Nacional, tendo seu principal mercado localizado nas regiões Sul e Sudeste. Ou seja, é nítida a importância da UHE Belo Monte para a segurança do fornecimento elétrico aos consumidores finais. Para se ter uma ideia, cada unidade geradora de Belo Monte possui capacidade instalada próxima da Usina Termoelétrica de Angra I, da ordem de 640 MW. Ou seja, Belo Monte, nos períodos de geração máxima pode equivaler a quase 18 termonucleares Angra I. E, quando concluída, Belo Monte terá capacidade de tender a cerca de 60 milhões de consumidores, o equivalente a 30% da população brasileira.
Não há como se opor a uma usina que já é realidade e que só trouxe benefícios para o país.
Fonte: “Poder360”, 16/04/2019