Os rombos previdenciários dos estados são reflexo dos benefícios concedidos durante a carreira do servidor, principalmente daqueles que têm aposentadorias especiais, como professor, policial e bombeiro, afirma a economista Ana Carla Abrão, sócia da consultoria global Oliver Wyman:
– Depois de dois anos, o policial militar tem progressão automática, e muitos acabam em atividades burocráticas. Torna-se necessário, então, fazer outro concurso para ter mais policiais nas ruas. Isso se reflete na Previdência, aumentando o déficit. Tem que haver uma gestão melhor dos recursos humanos, com a avaliação de alguns benefícios, como a promoção automática após determinado tempo de serviço.
Com o peso da folha de pessoal, o estado também perde capacidade de investimento para reduzir seu quadro administrativo, implantando, por exemplo, a digitalização dos processos. Com isso, a reposição de pessoal poderia ser menor, diz Ana Carla, que já foi secretária de Fazenda de Goiás:
– A Previdência fica cada vez mais desequilibrada, e a máquina pública vai se autodestruindo.
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Segundo a economista, há uma combinação perversa que acaba se voltando contra o próprio servidor, como aconteceu no Estado do Rio, que atrasou o salário dos aposentados por mais de 20 meses.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que servidores com aposentadorias especiais vão para a inatividade mais cedo, por volta dos 50 anos:
– O servidor leva para a aposentadoria os benefícios obtidos ao longo da carreira. Ele se aposenta cedo, com salário no pico. No ritmo em que está hoje o crescimento do déficit, os estados vão ficar inviabilizados – afirma José Ronaldo Castro Júnior, do Ipea.
O levantamento do Ipea, feito pelos economistas Cláudio Hamilton dos Santos, Sandro Sacchet de Carvalho e Felipe dos Santos Martins, destaca ainda o aumento de idade dos militares: “O forte aumento do peso dos militares acima de 40 anos, verificado entre 2006 e 2015, indica que um enorme contingente – perto de 40% de todo o efetivo atual – deverá se aposentar na próxima década”.
Fonte: “O Globo”