Os maiores interessados na proibição são os bicheiros, os políticos que ajudam a eleger e os policiais e juízes que compra
Do desespero para sairmos do buraco fiscal nascem propostas para a legalização de bingos e cassinos no Brasil, com discreta aprovação do governo. Mas, apesar dos lobistas que levam parlamentares da bancada do jogo a Las Vegas e Punta Del Este, no mar de lama do Congresso há “resistências morais”… rsrs
E o jogo do bicho? Por que ninguém fala em legalizar a secular diversão popular brasileira? Claro, os maiores interessados na proibição são os bicheiros, que mantêm sua máquina de poder, e os políticos que ajudam a eleger, os policiais e juízes que corrompem.
Não dá para continuar gastando os preciosos tempo e dinheiro da polícia na farsa da “contravenção”, em que a polícia finge que prende e o contraventor finge que é preso, para que tudo continue como está: o jogo do bicho como fonte inesgotável de corrupção. E de violência, nas lutas de quadrilhas pelos pontos. Na guerra ao bicho, dá burro na cabeça.
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Que misteriosas razões permitem apostar em cavalos, mas não em outros bichos? Por que o Estado deixa os pobres perderem dinheiro em loterias, megassenas e raspadinhas, jogos apropriadamente chamados “de azar”, mas criminaliza o bicho? O bicho, ao menos poeticamente, tem os sonhos para orientar as apostas.
Mas não faz sentido legalizar o bicho para entregá-lo aos bandidos de sempre. Até os privatistas radicais vão concordar que é um raro caso em que o Estado, que já administra inúmeras loterias, pode assumir a zoológica — porque já tem estrutura, tecnologia e uma rede nacional eficiente.
Não haverá problema de desemprego: os bicheiros que vemos todo dia em suas cadeiras na calçada poderão continuar anotando apostas, mas em maquinetas eletrônicas ligadas à central de loterias da Caixa, emitindo talões com a nova garantia: vale o digitado.
Mas neste governo, como em governos recentes (Geddel foi vice-presidente de loterias da Caixa com Dilma), o maior perigo de estatizar o bicho é empregar tantos burocratas e afilhados, gastar tanto em escritórios, salários, carros, viagens, impostos, licitações fraudadas e aditivos, que não vai sobrar dinheiro para pagar as apostas…
Fonte: “O Globo”, 17/11/2017
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