O loteamento de cargos públicos é um dos cernes da denúncia contra os deputados estaduais presos na Operação Furna da Onça — que estão prestes a deixar a cadeia. Além deles, 16 dos 39 parlamentares que, anteontem, votaram a favor da soltura de seus colegas têm os nomes citados numa planilha apreendida pela Lava-Jato em 2017 que, supostamente, indicaria práticas semelhantes. A lista foi encontrada na casa do ex-líder do governo Edson Albertassi (MDB), preso naquele ano na Operação Cadeia Velha. Nela, há 3.309 indicações feitas por 88 políticos e servidores para órgãos como Detran, Faetec e Fundação Leão XVIII.
Assim como na época da descoberta desse que seria um controle do aparelhamento de parte da máquina pública fluminense, a maioria dos deputados nega que tenha feito as indicações listadas. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o documento foi uma das peças da denúncia que apresentou à Justiça contra 29 acusados de corrupção e recebimento de propinas, entre eles os cinco beneficiados pela votação desta semana na Alerj: André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Vinicius Neskau (PTB), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho da Mangueira (PSC) — este último em prisão domiciliar.
Últimas notícias
Senado aprova texto-base da reforma da Previdência em 2º turno por 60 a 19
Bolsonaro: reforma administrativa deve ser menos difícil que a tributária
Startup que aluga carros para jovens, 99 e Uber acelera no Brasil
Os deputados que votaram para soltá-los não foram denunciados. Um deles é o atual presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), com 14 menções na planilha referentes a indicações, por exemplo, para o Detran nos municípios de Japeri, Paracambi e Mendes. Ontem, por meio da assessoria da Casa, ele afirmou que desconhece a listagem e que nunca “fez indicações para cargos de direção no Detran nem para postos ou empresas terceirizadas do órgão”.
Com dez citações, Dr. Deodalto (DEM) foi além ao dizer que, na época, a divulgação da planilha causou revolta e estranheza a ele e a vários colegas:
— Percebemos que nossos nomes foram utilizados indevidamente por quem, na Alerj, tinha o poder de negociação com o Executivo. Utilizavam nossos nomes, mas os cargos eram, na verdade, indicados por quem fazia a interlocução com o governo — afirmou ele, reconhecendo que, dos cargos em seu nome, fez apenas uma indicação, segundo ele, de uma pessoa que passou por seleção e treinamento antes de assumir.
A relação apreendida pela Lava-Jato lista cargos em todos os municípios do Estado do Rio, muitas vezes coincidindo com a região de atuação dos parlamentares. Em seus depoimentos à Justiça, o próprio Albertassi afirmou que não havia indicação política alguma de parte dos deputados listados, citando nominalmente Bebeto (Podemos, que votou pela manutenção da prisão de seus pares) e Márcio Pacheco (PSC). Este último nega qualquer barganha de cargos em troca de votos na Alerj, como as relatadas na denúncia do MPF.
“Resta claro que o nome de Márcio Pacheco foi usado de forma indevida e irresponsável, já que o próprio Edson Albertassi declarou, em seu depoimento, que o deputado não havia feito tais indicações”, afirma a assessoria do parlamentar, dizendo que ele está à disposição da Justiça para qualquer esclarecimento.
Já Bruno Dauaire (PSC) afirmou que a lista está desmoralizada:
— Como quem votou contra as contas do governo vai ter cargo lá? Fiz oposição por quatro anos, e isso seria incoerente. Na lista nem tem nomes, gostaria que me dissessem quem são.
As assessorias da Enfermeira Rejane (PCdoB) e de Marcos Muller (PHS) também negaram que os deputados tenham feito qualquer indicação. E, assim com Ceciliano, Renato Cozzolino (PRP) afirmou desconhecer a lista, a qual afirma ter tido acesso apenas pela imprensa. Já Gustavo Tutuca (MDB) e Jair Bittencourt (PP) disseram que não se manifestariam. Procurados ontem por meio de suas assessorias ou em seus gabinetes, Brazão (PL), Jorge Felippe Neto (PSD), Rosenverg Reis (MDB) e Thiago Pampolha (PDT), João Peixoto (DC), Márcio Canella (MDB) e Lucinha (PSDB) não deram retorno.
+ As verbas indenizatórias e os super-salários do Judiciário
Além deles, três parlamentares que não compareceram à votação anteontem são citados no documento apreendido na casa de Albertassi: um deles, Tia Ju (PRB), em viagem oficial à China, publicou em suas redes sociais que, se estivesse no plenário, seguiria a posição de seus correligionários e votaria pela manutenção da prisão dos acusados.
A Lava-Jato apreendeu uma outra lista na casa do ex-deputado Paulo Melo (MDB), também preso na Operação Cadeia Velha, com indicações apenas para cargos no Detran. Nela, aparecem nove nomes de deputados estaduais, que se repetem na planilha de Albertassi.
Fonte: “O Globo”