Num cenário de fraqueza econômica, a renda do brasileiro deve permanecer estagnada neste ano. Além de um resultado pontual ruim, os indicadores reforçam a expectativa de que os estragos provocados pela crise no dia a dia da população vão levar mais de uma década para serem superados.
Para este ano, o crescimento previsto tanto para a economia brasileira quanto para a população é de 0,8%, o que vai deixar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita estagnado, de acordo com um levantamento da consultoria A.C. Pastore.
A renda média de uma população é apurada com base no PIB per capita, indicador que mede toda a riqueza produzida por um país e a divide pela quantidade de habitantes. Em 2018, a renda per capita dos brasileiros foi de US$ 14.359.
Em 2017 e 2018, o avanço ainda que tímido de 1,1% da economia brasileira permitiu algum ganho de renda per capita. Mas ainda muito distante do que o Brasil precisa – se o país seguir neste ritmo, serão necessários cerca de 240 anos para dobrar a renda por pessoa.
A crise atual tem sido marcada por uma combinação inédita na história do país. Ela é profunda e de lenta retomada. Hoje, o PIB per capita do Brasil ainda está cerca de 9% abaixo do patamar observado antes de se iniciar a crise, em 2014.
Últimas notícias
Metade das empresas já tem plano de previdência complementar, diz estudo
Sistema de capitalização pode ser retomado no Senado
Previdência: começa nesta terça votação da reforma em 2º turno na Câmara. Saiba o que está em jogo
“Se o Brasil voltar a crescer ao fim deste ano, entre 2% e 2,5% ao ano, o país demoraria de 10 a 12 anos para retornar ao nível da renda per capita que tinha antes do início do ciclo recessivo”, afirma o presidente da consultoria A.C. Pastore e do Centro de Debates de Políticas Públicas, Affonso Celso Pastore. “Isso nunca aconteceu na história do país”, diz o economista, que também foi presidente do Banco Central.
Com a expectativa de que os estragos na renda só sejam apagados entre 2024 e 2026, o Brasil enfrenta a pior crise econômica da história. Até então, a retomada mais lenta havia sido registrada nos anos 1980.
Desemprego é alto
A face mais perversa da perda de renda do brasileiro nos últimos anos se revela com a piora do mercado de trabalho. Ao fim do segundo trimestre, o Brasil tinha 12,8 milhões de desempregados e a população subocupada era de 7,4 milhões de pessoas.
Há seis anos fora do mercado de trabalho, Sara Fidelis, de 50 anos, viu a sua renda mensal minguar. Teve de diminuir parte do consumo e vendeu o carro para reforçar a reserva financeira. “Reduzi meu consumo em 70%. Só compro o que é prioritário”, afirma.
Formada em comércio exterior, Sara chegou a desistir de procurar emprego e passou para o chamado grupo dos desalentados. Hoje, tenta voltar ao mercado de trabalho e vive de bicos para ter alguma renda no mês. “Sem emprego, não tenho mais plano de saúde e passei a depender do SUS (Sistema Único de Saúde).”
A jovem Tauany Ramos Cavalcanti, de 22 anos, também enfrenta o drama da falta de trabalho formal. Atualmente, só consegue uma renda na informalidade. Ela mora com os pais, mas precisa de um salário para pagar metade da faculdade de psicologia – a outra parte é custeada por uma bolsa de estudos.
Formada em comércio exterior, Sara chegou a desistir de procurar emprego e passou para o chamado grupo dos desalentados. Hoje, tenta voltar ao mercado de trabalho e vive de bicos para ter alguma renda no mês. “Sem emprego, não tenho mais plano de saúde e passei a depender do SUS (Sistema Único de Saúde).”
A jovem Tauany Ramos Cavalcanti, de 22 anos, também enfrenta o drama da falta de trabalho formal. Atualmente, só consegue uma renda na informalidade. Ela mora com os pais, mas precisa de um salário para pagar metade da faculdade de psicologia – a outra parte é custeada por uma bolsa de estudos.
“Os gastos que fazemos são os básicos: alimentação, luz e água”, afirma. “Em casa, fizemos cortes em gastos com lazer e em coisas supérfluas, com assinatura de televisão.”
Na prática, esse desempenho da economia tem levado a um aumento da desigualdade. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) já apontou que a desigualdade no país cresce há 17 trimestres seguidos. A pesquisa mostrou, por exemplo, que as pessoas que ganham menos sofreram mais os efeitos da crise econômica.
“Isso não aconteceu nem no nosso pico de desigualdade, lá no final dos anos 1980”, afirma o diretor da FGV Social, Marcelo Neri. “Então, essa piora faz com que a roda da economia não gire, você joga areia na engrenagem da economia”.
+ A reforma da Previdência acaba com o seguro-desemprego?
Agenda longa
Uma melhora na renda do brasileiro ainda parece distante. A agenda para acelerar o crescimento da economia e, consequentemente, da renda da população é bastante longa, segundo os economistas.
O Brasil tem de continuar a resolver a questão fiscal – a reforma da Previdência já foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados, mas os estados seguiram de fora. Os economistas também apontam que o país precisa endereçar uma reforma tributária, avançar na agenda infraestrutura e abrir a economia para o comércio internacional no futuro.
“As notícias não são positivas, não existe uma bala de prata para o crescimento vir mais forte”, afirma Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas.
De fato, o quadro de fraqueza da economia brasileira não fica apenas restrito para 2019. Em 2020, os analistas estimam um crescimento próximo de 2%.
Fonte: “G1”