A possibilidade de o Banco Central comprar diretamente carteiras de crédito e títulos emitidos por empresas é vista por especialistas como um mecanismo eficiente para evitar o agravamento dos efeitos econômicos da crise gerada pela pandemia do coronavírus.
Esse tipo de medida já foi anunciado por outros bancos centrais pelo mundo, como o Federal Reserve (Fed) o BC dos Estados Unidos.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a medida ajudará, especialmente empresas grandes, e é um caminho de se evitar uma crise maior. Na prática, o governo assume os riscos dos bancos privados.
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– Logicamente isso vale para uma situação de crise como agora, e não está claro como serão escolhidas as empresas e carteiras de crédito. Mas acho uma medida necessária no momento da crise. O BC está no caminho certo já que liberação de compulsório pode deixar os recursos empoçados nos bancos. A questão aqui é o governo eventualmente salvar empresas que o sistema financeiro não queira salvar. Não é uma solução fácil é só é pra ser usada em casos muito críticos.
‘Munição de guerra’
Especializado em sistema financeiro, o economista João Augusto Salles afirma que a abertura dessa possibilidade dá ‘munição de guerra’ ao BC, embora a autoridade monetária não vá gastá-la de uma vez.
– A compra de carteiras é uma função dos bancos. O BC também pode induzir as instituições a comprarem carteiras de títulos, liberando compulsório e exigindo que esse dinheiro seja destinado a essa função. É uma forma de ‘desempoçar’ liquidez. Mas trata-se de uma medida de ‘guerra’, mas acredito que ainda não estamos nesse patamar de falta de liquidez. Vai na mesma direção que o veto ao pagamento de dividendos pelos bancos, para preservar recursos para a manutenção de crédito – diz Salles.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgou nesta segunda-feira que vedou temporariamente o aumento do pagamento de dividendos e remuneração pelos bancos como parte do pacote de medidas que o Banco Central está adotando para enfrentar a crise do coronavírus. Segundo o BC, o objetivo é evitar “o consumo de recursos importantes para a manutenção do crédito e para a eventual absorção de perdas futuras”.
Em nota, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) informou que o mercado de capitais brasileiro tem ampliado sua participação no financiamento da atividade econômica nos últimos anos, o que torna essencial manter sua liquidez em momentos de crise.
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“A autorização para que o Banco Central compre e venda títulos de crédito privado no mercado secundário, proposta pela PEC 10/2020 (a “PEC do orçamento de guerra”), é uma medida fundamental para proporcionar estabilidade ao mercado de capitais e, consequentemente, contribuir para que sejam atenuados os efeitos da Covid-19 na economia. A Anbima reconhece a prontidão nas medidas adotadas pelos reguladores para viabilizar essa importante injeção de liquidez no mercado. A expectativa da Associação é de breve conclusão da tramitação da PEC”.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou, também em nota, que, ao contrário do que aconteceu na crise de 2008, desta vez, não se observa um empoçamento de liquidez, mas sim um aumento substancial nas necessidades por recursos líquidos, o que torna esta crise bem diferente da anterior. Além disso, os bancos internacionais cortaram as linhas de crédito, o que estreitou mais ainda o volume de dinheiro disponível no sistema.
“Mas seguimos trabalhando com o Banco Central e governo, para prover liquidez e crédito para quem precisa”, afirmou a entidade.
Fonte: “O Globo”