Enquanto a China levou dez dias para construir um hospital de 34.000 metros quadrados na cidade de Wuhan, epicentro do coronavírus, o estado do Rio ostenta unidades de saúde que estão em obras há anos e não têm sequer previsão de entrega. Em São Gonçalo, o sonho de ter uma maternidade estadual por perto se transformou em pesadelo: o esqueleto do hospital, anunciado em 2013, ao custo de R$ 43 milhões, hoje serve apenas de abrigo para usuários de drogas. Já em Queimados, na Baixada Fluminense, uma obra iniciada em 1990 e que consumiu, pelo menos, R$ 53 dos cofres públicos, hoje não passa de um terreno baldio.
Para construir um hospital em tempo recorde, a China contou com milhares de operários, mobilizados dia e noite, que nivelaram o terreno, instalaram as fundações de cimento, fizeram as conexões de água e energia e criaram 400 leitos, equipados com banheiros, equipamentos médicos e tecnologia 5G.
O ritmo frenético dos orientais contrasta com a obra abandonada de Colubandê, em São Gonçalo, onde há anos um operário não é visto.
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— Quando disseram que ia inaugurar foi um falatório danado dos políticos. E agora, cadê? Estamos jogadas às baratas — desabafou Maria Aparecida do Nascimento Rodrigues da Silva, de 52 anos, que mora há 30 anos no bairro e já perdeu esperanças de ver a maternidade de pé.
O projeto do Hospital estadual da Mãe previa um prédio de cinco andares, tendo um andar inteiro destinado a uma UTI neonatal, que não existe na rede pública de saúde de São Gonçalo. Em um prédio anexo, que também começou a ser construído, funcionaria a Clínica da Mãe, com recepção, 14 consultórios, salas para coleta, ultrassons e dependências administrativas.
Com o pequeno Alessandro, de 4 anos, no colo, chorando de dor de dente, a técnica de enfermagem Danielle Rosa, de 26 anos, lamentou a falta que o hospital faz no bairro.
— Trouxe meu filho para a UPA do Colubandê, mas não tem dentista. Ele tomou um remédio e estamos indo para casa. Amanhã, se continuar doendo, vou ter que procurar uma unidade particular — disse.
Procurada, a Secretaria estadual de Saúde afirmou, em nota, que “os projetos que começaram e não foram concluídos pela antiga gestão estão em análise técnica e financeira para identificar a possibilidade de execução”.
Palanque para políticos
Em 1990, a população de Queimados viu a construção de um hospital geral começar a sair do papel. O esqueleto foi erguido e, dois anos depois, abandonado. Passaram-se três décadas e pelo menos R$ 53 milhões foram gastos na empreitada que, ainda hoje, não tem previsão de entrega.
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— A Saúde sempre foi mote para discurso eleitoreiro na Baixada. Já na década de 1950, os políticos anunciavam a construção de um posto de saúde da Pedreira, que só foi inaugurado na década de 1970 — conta o professor Wilson Henrique de Araújo Filho, de 46 anos, morador de Queimados.
Embora nunca tenha sido inaugurada, a obra serviu de palanque para políticos: em janeiro de 2006, ano eleitoral, o ex-presidente Lula visitou o local e anunciou o repasse de verbas para finalizar o esqueleto. Em março de 2007, o ex-governador Sérgio Cabral posou para fotos no terreno exibindo um croqui do futuro hospital.
O governo do estado assumiu a obra em 2013 e demoliu a estrutura, prometendo fazer ali o Hospital de Cardiologia, que nunca foi erguido.
Em nota, a prefeitura de Queimados diz que o terreno pertence ao estado e que continuará articulando “no sentido de conseguir recursos junto ao governos federal e estadual para viabilizar o projeto, haja visto que o município não dispõe de recursos para a construção e manutenção de uma unidade de saúde desse porte”.
Fonte: “O Globo”