Pela primeira vez em 2019 a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou abaixo de 1,5%. A projeção é do relatório Focus, boletim de mercado divulgado nesta segunda-feira (6) pelo Banco Central (BC). Consultados, economistas de mais de 100 instituições financeiras voltaram a reduzir a expectativa de alta da economia. Essa foi a décima queda seguida do indicador, que já havia recuado de 1,70% para 1,49% na semana passada. Para economistas, a espera pela reforma da Previdência paralisa o governo e também investidores.
Segundo o economista Amir Khair, um dos motivos para a queda na projeção de crescimento da economia é o entendimento errôneo de que ele estaria subordinado ao sucesso da reforma da Previdência. Segundo Khair, o governo erra ao abandonar alternativas eficazes e focar apenas nas reformas, esperando que elas atraiam investimentos do setor privado. “A expectativa com investimentos deixa de lado a mola da economia, que é o consumo das famílias, responsável por cerca de 65% do PIB”, avalia.
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Khair acredita que a redução das taxas de juros para cartão de crédito é uma alternativa que não depende do Congresso para estimular o consumo e melhorar a arrecadação. Também sugere “tirar do cartel de bancos” a Caixa e o Banco do Brasil, permitindo que eles pratiquem juros menores . “Isso ajuda a atenuar o grande endividamento das pessoas, aumenta a arrecadação pública e resolve o problema fiscal”, afirma o economista, que não enxerga melhoria a curto prazo, mesmo com a aprovação das reformas. “A economia não vai para a frente. Ela está travada pelo desemprego elevado, altas taxas de crediário e endividamento das famílias”, sustenta, salientando que, mesmo com a reforma, as empresas vão demorar a investir por causa de sua capacidade ociosa — diferença entre a capacidade máxima de produção e o volume final.
Já o economista Pedro Galdi, analista de investimento da corretora Mirae Asset, atrela a redução da estimativa do PIB às expectativas do mercado por reformas rápidas. “Há dois cenários: com e sem a aprovação da reforma da Previdência. Quem vai investir sem essa definição?”, questiona. Os cortes em educação anunciados recentemente pelo governo são a prova da necessidade da reforma, segundo Galdi. “A conta não fecha, o orçamento é limitado. Vão ter de tirar mais ainda de outras áreas enquanto não aprovarem a reforma”, disse o analista de investimento.
INFLAÇÃO E SELIC
Os especialistas do mercado financeiro também elevaram a expectativa de inflação de 4,01% para 4,04% no boletim Focus, ainda dentro da meta central, estipulada em 4,25% para este ano, e do intervalo de tolerância — de 1,5% para baixo ou para cima. Os economistas ainda sinalizaram a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 6,5%, a menor na história do Plano Real, e projetaram a taxa de câmbio em R$ 3,75 o dólar.
De acordo com Galdi, a inflação tende a ficar controlada. Isso porque, com o desemprego alto e muita gente endividada, não há consumo. Ainda assim, ele não crê que uma mudança na taxa básica de juros possa estimular a retomada. “Até seria aceitável abaixar a Selic, mas teriam de aumentar depois. Não dá para ficar com essa oscilação”, argumenta, ratificando o que pensa ser essencial para projeções mais otimistas. “Enquanto não aprovarem a reforma da Previdência, vamos continuar nesse ritmo”.
Fonte: “Época”