O produtor de grãos Júlio César Pereira Júnior, da Fazenda Pombo, em Uberlândia (MG), financia todo ano o plantio de sua safra de grãos, baseada principalmente em soja e milho. E, recentemente, tem lançado mão de uma ferramenta mais ágil, segundo ele: uma plataforma digital desenvolvida pela startup Nagro. Ali, conta Pereira Júnior, tem limite de crédito pré-aprovado para vários credores, e consegue liberar em oito dias o dinheiro, emitindo Cédulas de Produto Rural (CPR) digitais, ante 60 dias do trâmite “físico” do título financeiro.
“Tenho todas minhas matrículas, reserva legal, licenciamento ambiental, ITR (Imposto Territorial Rural), CAR (Cadastro Ambiental Rural), outorga de água, tudo digitalizado”, confirma. “Antes, isso demandava calhamaços de papel. Eu vivia seis meses no banco e seis na lavoura”, exemplifica o produtor, garantindo que esse tempo todo não é exagero.
O agricultor financiou 70% do plantio de 4.200 hectares de soja e 3.400 hectares de milho de inverno, plantado em seguida na mesma área da soja, após a colheita da oleaginosa. Para a safra 2018/19, o custeio demandou R$ 11 milhões, sendo R$ 2 milhões garantidos por meio de CPR digital. Pereira Júnior é só elogios à plataforma: “Ela nos dá retorno para melhoria da gestão, seja em liquidez, endividamento, solvência, fluxo de caixa, riscos”, exemplifica.
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A Nagro é uma das 493 fintechs (startups ligadas a soluções financeiras) atuando ou sendo desenvolvida no Brasil, seundo a Associação Brasileira de Startups, entidade que reúne cerca de 11 mil membros. Em 2015, segundo a ABS, esse segmento registrava 345 empresas, ou seja, o crescimento foi de 43% em pouco mais de quatro anos. São empresas que encontraram soluções para diversas atividades. E a do agronegócio ganha cada vez mais destaque no setor.
Movimento
A fintech, com sede em Uberaba, viu seu movimento dobrar de um ano para outro. Desde 2016, quando efetivou a plataforma digital, oferece ao produtor um panorama das possibilidades de crédito entre as empresas, além de fazer análise de crédito e risco. Esse tipo de operação, aliás, foi o início de tudo, segundo informa o engenheiro agrônomo Gustavo Antônio Alves, que tem mais dois sócios na empresa.
Atualmente, no universo de 280 produtores que já usaram a plataforma – a maior parte de agricultores de soja e café, concentrados em Minas Gerais, Goiás e São Paulo –, a movimentação financeira superou os R$ 400 milhões. São 75 a 100 produtores a mais por ano, com perspectiva de ampliação para 150 a 200 em 2020”, estima Alves.
Um dos produtos que mais movimentam a plataforma são as CPRs digitais, ainda que, segundo Alves, representem apenas 10% do que é dado em garantia para os credores; o restante são garantias reais, como hipotecas, alienação fiduciária e penhor. “Mas a CPR pode estar vinculada a essas garantias também”, informa. “A grande vantagem do processo é o produtor não precisar ir ao banco tomar empréstimo, nem levar a CPR no cartório, procedimento que às vezes demanda duas operações, uma no cartório da cidade do credor, outra no da cidade do tomador”, justifica.
Confiança
Uma estratégia interessante adotada pela startup na plataforma foi a aplicação do conceito de taxa de sucesso, ou seja, a fintech só recebe quando o dinheiro é liberado para o produtor. “Temos de vencer a barreira da desconfiança”, justifica Gustavo Alves.
+ Por dentro do mundo das startups
Outra fintech que espelha esse crescimento de mercado, principalmente no agronegócio, é a Bart Digital, de Indaiatuba (SP), que, assim como a Nagro, desenvolveu uma solução para acelerar a liberação de crédito agrícola – no caso, na modalidade de barter, ou seja, o pagamento dos insumos financiados se dá mais à frente, com a entrega da produção.
Inaugurada em 2016, a Bart Digital já movimentou operações superiores a R$ 700 milhões e detém carteira de 60 clientes. Segundo a sócia executiva, Mariana Bonora, a fase “de tração” começou em 2019, com clientes (credores) na indústria de insumos, revendas e fundos de investimento, estes últimos trabalhando com CPRs. “Uma operação completa de barter pode levar até 160 dias para ser concluída, 60 deles só com a CPR. Com a ‘desmaterialização’ (passagem do documento em papel para digital), conseguimos deixar a CPR pronta para assinatura do produtor em 15 dias. A meta é chegar a 5 dias.”
Fonte: “Estadão”