Na semana passada, o Banco Central ( BC ) reduziu mais uma vez a taxa básica de juros, e a Selic renovou seu piso histórico: 5% ao ano . Ou seja, o rendimento da renda fixa ficará ainda menos atraente. Alguns investidores, no entanto, continuam a ter resistência à renda variável , não só pelo maior risco, como por não quererem investir em empresas que poluem o meio ambiente, por exemplo.
Esse movimento, mais forte nos países ricos, já foi percebido pelo mercado brasileiro, e atualmente já é possível investir sem abrir mão de suas convicções.
A mais nova integrante do grupo é a corretora Warren, que semana passada lançou seu primeiro “ fundo verde ”, que investe em empresas socialmente responsáveis. Batizado de Warren Green, o fundo acompanha três indicadores: o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o Índice de Governança Corporativa (IGC) e Índice Carbono Eficiente (ICO2), todos da Bolsa brasileira, a B3. Além disso, a corretora conta com um índice próprio para avaliar as empresas e, caso necessário, retirá-las do fundo.
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– Criamos o fundo a partir da demanda de clientes por alternativas de investimentos que têm propósito. Estão listadas tanto empresas brasileiras quanto estrangeiras – afirma Thomaz Fortes, gestor de fundos da Warren.
Atualmente, cerca de 20 empresas fazem parte do Warren Green, como as brasileiras Natura, TIM e Renner. Entre as estrangeiras, encontram-se a Microsoft, a Tesla (de carros elétricos) e a Beyond Meat (que produz “carne vegetal”), por exemplo. A aplicação mínima é de R$ 100, e a taxa de gestão do fundo é de 0,5% ao ano.
Lançado em setembro de 2018 pelo Banco do Brasil, o Fundo BB Equidade lista em sua carteira empresas que adotam ou incentivam práticas de equidade de gênero. Para selecionar essas companhias, o banco usa como referência os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEP, na sigla em inglês), da ONU.
— Consideramos empresas nacionais ou estrangeiras que têm BDRs (recibos de ações de companhias estrangeiras negociadas no Brasil) para compor o fundo. Atualmente, há cerca de 21 empresas no BB Equidade — diz Jorge Ricca, gerente executivo de fundos multimercado e ações do Banco do Brasil. — Entre as ações do fundo estão Renner, Magazine Luiza, Pepsi e Microsoft.
A aplicação inicial no BB Equidade disponível para clientes do varejo é de R$ 200, com taxa de administração de 2% ao ano. Em setembro, o fundo contabilizou um patrimônio de R$ 45 milhões. O Banco do Brasil tem ainda o Fundo ISE, que se inspirou no nome e nos parâmetros do ISE, da B3. Criado em dezembro de 2005, a aplicação inicial é de R$ 15, com taxa de administração de 2,5% ao ano.
Apesar de os índices servirem de guia, é preciso atenção. A mineradora Vale, por exemplo, fazia parte do ISE até fevereiro deste ano. A empresa só foi excluída após o desastre em Brumadinho (MG).
Opções conservadoras
Para quem não abre mão de aplicações mais conservadoras, também há investimentos de renda fixa que se importam com a causa social. É o caso do Fundo AZ Quest Azimut Impacto Social, distribuído pela gestora AZ Quest. Criado em novembro de 2016, ele converte os recursos da taxa de administração, que é de 0,8% ao ano, para projetos de impacto social em regiões carentes de São Paulo. A aplicação mínima é de R$ 1 mil.
O fundo repassa os valores para a Artemisia, uma organização sem fins lucrativos que estimula negócios de impacto social. A Artemisia, por sua vez, investe os recursos na Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip), que atua na capital paulista.
— A busca pelo fundo ainda é menor do que gostaríamos. Atualmente, temos R$ 26,6 milhões sob gestão, mas a intenção é que o fundo cresça ainda mais — ressalta Walter Maciel, presidente-executivo da AZ Quest.
A busca por aplicações que visam à sustentabilidade ou ao impacto social ainda é pequena no Brasil, avalia Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama. Mas ela vê espaço para crescer.
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— No exterior, a busca por investimentos com propósito social é grande. Aqui, esse mercado ainda dá os primeiros passos. Há espaço suficiente para que produtos “verdes” sejam lançados — diz. — Com uma busca maior por renda variável, corretoras e gestoras terão de criar produtos diferenciados para atrair os clientes. Dessa forma, as alternativas sustentáveis têm espaço para crescer.
Embora o mercado ainda seja pequeno, há outras opções para buscar algo mais que rentabilidade. Na Órama, por exemplo, além do fundo da AZ Quest, há o JBI. Criado em setembro de 2005 e hoje com patrimônio de R$ 24 milhões, o fundo tem em sua carteira apenas empresas comprometidas com boas práticas de ética e governança. A aplicação mínima é de R$ 1 mil, com taxa de administração de 2% ao ano.
Foco na educação
Já o Macro Capital One FIC FIM, criado em agosto deste ano, tem uma aplicação mínima mais salgada: R$ 20 mil. Com taxa de administração de 1,8% ao ano, o fundo destina 1% dos lucros a projetos de educação.
E será lançado em breve o Equitas Mãos Amigas, cuja taxa de administração também será repassada a projetos de educação. A aplicação mínima será de R$ 5 mil, com taxa de administração de 2% ao ano.
Fonte: “O Globo”