Cerca de 200 alunos devem se formar gratuitamente em Programação este ano na universidade norte-americana Make School, que começou como uma startup em São Francisco, EUA, há cinco anos. Eles só pagarão pelo curso se conseguirem um emprego com rendimento superior a US$ 60 mil por ano. No ano que vem, são esperados entre 350 e 400 alunos, nas mesmas condições.
A instituição de ensino foi criada pelos empreendedores Jeremy Rossmann e Ashu Desai. Eles tiveram o primeiro insight do projeto ainda no Ensino Médio, há mais de dez anos.
Rossmann veio ao Brasil apresentar o projeto na quarta edição do evento Quero Captação, que reuniu mais de 1,2 mil pessoas no Expo Center Norte, em São Paulo, na última sexta-feira.
Frustração com o ensino acadêmico
As lojas de aplicativos surgiram depois de um tempo que os smartphones já existiam. Quando a App Store foi anunciada por Steve Jobs, Rossmann e Desai tinham aulas de programação na escola, mas nada era falado sobre a nova tecnologia. “Meus amigos e eu pensamos que tínhamos que aprender como fazer aplicativos. Um garoto na minha sala fez um um e faturou US$ 30 mil. Foi extremamente surpreendente”, relembra Rossmann.
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No ano seguinte, eles foram para a universidade. Jeremy foi para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e Desai para a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Quando se encontraram nas férias de verão, perceberam que tinham exatamente as mesmas frustrações: o currículo do curso não era atualizado e não havia nem planos de mudanças nos próximos anos.
“Resolvemos dar um tempo nos estudos e desenvolvemos um curso que nós gostaríamos de ter. Nos tornamos muito populares ensinando jovens estudantes a desenvolver aplicativos e logo as universidades começaram a nos contratar para ensinar”.
Isso os fez pensar: se as instituições gostavam do que ensinavam e os alunos também, porque não criar o próprio projeto?
Startup nasceu como alternativa à universidade
Em 2014, os dois pararam de dar aulas nas universidades e criaram o próprio curso. Para isso, decidiram que seguiriam três princípios:
• Eles só se considerariam bem-sucedidos se os estudantes fossem bem-sucedidos.
• Todo o conteúdo deveria ser verdadeiramente relevante para métodos e práticas de companhias reais e ser desenvolvido em conjunto com as empresas.
• Os alunos aprenderiam colocando a mão na massa, com criação e lançamento de novos projetos a cada aula.
A primeira turma começou em 2014, como um experimento de alternativa às universidades tradicionais. Rossmann lembra das críticas que recebeu quando alguns estudantes diziam que trocariam a universidade pela Make School. “Pais me ligavam chorando e diziam ‘o que você fez? Minha filha tinha tanto potencial’. Um ano depois, a jovem conseguiu um emprego e os pais ficaram felizes”, diz.
Um novo modelo de universidade
Com isso, eles perceberam uma oportunidade real de criar um novo tipo de instituição de ensino. “Nos Estados Unidos não é comum ter novas universidades. Pessoas olham para as tradicionais como algo estático, que já estava lá quando elas nasceram. É como um monumento em Roma: ninguém sabe exatamente quando foi criado, já estava lá”, explica.
Em 2018, eles conseguiram a aprovação para transformar o curso em bacharelado, tornando a Make School oficialmente uma graduação alternativa as universidades tradicionais.
Aluno precisa ser esforçado e criativo
O processo de admissão dos estudantes também é diferente das instituições de ensino regulares. A Make School utiliza dois critérios: o candidato precisa “apresentar evidências de que é esforçado” e ser uma pessoa do tipo “maker”, com capacidade de criação.
Para comprovar o primeiro quesito, o estudante pode apresentar boas notas na escola. Mas também há outros casos. “Encontramos várias pessoas que são ótimas, e sabemos que seriam grandes engenheiras, mas talvez não tenha notas tão boas. Isso é comum, ainda mais em alunos com paixão por fazer e realizar, mas sem aderência à metodologia da educação formal.”
Nesses casos, eles procuram por realizações do estudante, seja de voluntariado, na própria comunidade, família ou outra atividade que consiga mostrar algum tipo de resultado. “Não precisa ser exatamente algo relacionado à programação. Em geral, estudantes chegam até nós com pouca experiência na área. Eles têm que mostrar o que fizeram, ter capacidade de criação e provar que é a escola certa para eles.”
Todos passam por um teste no final, que envolve a criação e apresentação de um pequeno projeto e entrevistas com os próprios fundadores da Make School. Eles conversam com cada um dos candidatos.
Se for despedido, não paga
A decisão pelo não-pagamento de mensalidades durante o curso foi tomada para que alunos das mais diversas classes sociais pudessem ter acesso ao conteúdo, sem barreiras financeiras.
Após formados, os alunos que conseguem empregos com rendimentos acima de US$ 60 mil por ano pagam 20% do salário, durante cinco anos. Rossmann diz que a média salarial tem sido de US$ 100 mil.
Caso o estudante perca o emprego, ou saia para empreender por conta própria, por exemplo, não é necessário continuar os pagamentos.
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Funcionaria no Brasil?
Rossmann assegura que o modelo pode funcionar no país. Para isso, é preciso sempre ter em mente que o sucesso da faculdade depende do sucesso do aluno e que o currículo precisa ser construído em conjunto com as empresas-alvo do estudante.
“Uma das coisas que dão errado nos Estados Unidos, e provavelmente no Brasil também, é a arrogância das instituições tradicionais que colocam a responsabilidade no estudante. Se ele não está feliz, é problema dele. É assim que a educação funciona, mas se você compra qualquer outro produto no mundo, não é essa a atitude”.
O empreendedor conta que consegue manter a qualidade com feebacks dos alunos, que são coletados a cada sete semanas, sob diversos aspectos, que vão do conteúdo à rotina administrativa. Com isso, consegue insights para melhoria contínua.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”