Os governos precisam adotar ações ” urgentes ” para melhorar as perspectivas de médio prazo para suas economias , disse, nesta quinta-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ), que prevê o menor crescimento global em 10 anos.
Ao atualizar suas estimativas sobre a economia mundial, a OCDE aponta um crescimento global de 2,9% neste ano e em 2020, a mínima de uma década, e apenas uma leve expansão para 3% em 2021, mas só se uma série de riscos que vão desde guerras comerciais a uma acentuada desaceleração chinesa sejam contidos.
Para o Brasil, a OCDE manteve as projeções de expansão de 0,8% em 2019 e 1,7% em 2020, mas passou a ver crescimento de 1,8% em 2021, menor que os 2,0% estimados em setembro. A perspectiva é ainda mais sombria do que a prevista pelo FMI , que no mês passado disse esperar um crescimento global de 3% neste ano, subindo para 3,4% em 2020.
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– Estamos em um período preocupante. E os formuladores de políticas devem estar preocupados – disse o economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, em entrevista coletiva em Paris. – Essas taxas de crescimento estão abaixo da de 3,5% projetadas um ano atrás. São as mais baixas desde a crise financeira- acrescentou ela, que alerta para o “risco de estagnação a longo prazo”.
Esse fenômeno é explicado não tanto pelas crises cíclicas, mas pelas “mudanças estruturais” que os governos não souberam antecipar, indica a OCDE em seu relatório das perspectivas econômicas mundiais até 2021.
A organização cita, entre outros, a digitalização da economia, as mudanças climáticas e uma nova ordem geopolítica e comercial desde o final do ano de 1990, caracterizada pelo reforço das barreiras comerciais.
– Na ausência de uma política clara sobre essas questões, a incerteza continuará pesando e penalizando as perspectivas de crescimento – afirmou a economista-chefe.
A isto se soma a transformação da economia chinesa, que deixou de se concentrar nas exportações de manufaturados em favor do consumo interno, mudança que contribuirá menos para o crescimento do comércio mundial.
” Seria um erro político considerar essas mudanças como fatores temporários que podem ser tratados pela política monetária ou fiscal, eles são estruturais”, insiste em seu relatório a OCDE, que reconhece o trabalho dos bancos centrais nos últimos anos para apoiar a economia, particularmente com baixas taxas de juros.
É hora de agir
– Há muitas coisas que os governos podem fazer … e está na hora – afirmou Laurence Boone.
Como outras organizações internacionais, a OCDE vem alertando há meses sobre o “desequilíbrio” entre políticas monetárias e orçamentárias e solicita aos Estados que apliquem medidas “incentivas” para favorecer o investimento, aproveitando as baixas taxas de juros.
Uma possibilidade seria criar fundos de investimento nacionais, diz a OCDE, como os 50.000 milhões de euros que a Holanda deseja criar a partir de 2020.
A organização também pede que os países resolvam suas disputas comerciais. Nesse sentido, o conflito entre os Estados Unidos e a China deve reduzir o crescimento global em 0,3 ou 0,4 pontos em 2020 e entre 0,2 e 0,3 pontos em 2021.
Para a OCDE, os esforços de estímulo, juntamente com uma maior cooperação internacional em comércio e tributação e gerenciamento mais ativo da demanda, poderiam impulsionar o desempenho do G20, grupo das principais economias do mundo, em mais de 1% em três anos.
De acordo com a organização, as empresas estão retendo o investimento em edifícios, instalações, máquinas e software devido a preocupações com a incerteza econômica e as tensões comerciais.
Previsões por países
Por países, a desaceleração econômica será acentuada nos Estados Unidos, com crescimento de 2,3% este ano (-0,1 ponto em relação às previsões de setembro) e de 2% em 2020, ano crucial para as eleições americanas, e 2021, segundo o relatório da OCDE.
Na zona do euro, são adicionadas as dificuldades do Brexit, o que levará a Alemanha a conter seu crescimento este ano (0,6%) e no próximo ano (0,4%) antes de se recuperar em 2021 (0,9%).
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Para a Espanha, a OCDE prevê um crescimento de 2%, em 2019, e 1,6%, em 2020, uma revisão em baixa em relação aos dados anteriores.
Por sua vez, a China deve crescer um pouco mais do que o esperado este ano, 6,2% (+0,1 pontos) e 5,7%, em 2020, e 5,5%, em 2021.
Entre os países emergentes, a situação continuará sendo crítica na Argentina, que realizou eleições no mês passado , com uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) de -3% este ano (-0,3 pontos em relação às últimas previsões). Em 2020, a queda do PIB seria menor (-1,7%) e, em 2021, se recuperaria ligeiramente (+ 0,7%).
México, por sua vez, crescerá apenas 0,2% este ano, frente à estimativa anterior de 0,5%, devido a uma desaceleração de suas exportações devido às tensões tarifárias que mantêm China e EUA. O PIB mexicano deverá crescer 1,2% em 2020, segundo o informe.
Fonte: “O Globo”