Criada em Porto Alegre, a plataforma de comunicação Rocket Chat precisou de menos de um dia para atrair 30 mil pessoas no mundo todo. A empresa, que nasceu de olho no mercado interno, descobriu que a demanda estava no exterior e, em quatro anos de existência, tem seus produtos comercializados em 150 países. A curitibana Pipefy, uma plataforma de gestão de processos, ganhou seus primeiros clientes internacionais nos primeiros dias de criação e hoje tem sua marca em 156 nações.
O caminho seguido pelas duas empresas faz parte da estratégia de uma nova leva de startups que já nasce com o DNA global. Elas são desenhadas e estruturadas para explorar o mercado mundial, seja a partir do primeiro dia de fundação ou de uma forma gradual, com o amadurecimento da empresa. Essas companhias representam, na avaliação de especialistas, uma nova cultura do empreendedorismo brasileiro, que durante anos apostou apenas no mercado doméstico.
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A mudança se deve, em especial, ao apoio financeiro de grandes fundos de investimentos, que elegeram o Brasil como o principal mercado na América Latina. “Antes era muito difícil conseguir dinheiro para esse modelo de negócios. Ninguém investia. Hoje o cenário é diferente”, diz o sócio da gestora Redpoint eventures, Romero Rodrigues, fundador do Buscapé.
O movimento está apenas no início e deve continuar em ascensão, sobretudo, com o surgimento de novos unicórnios brasileiros – empresas que alcançam a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado. A cada empresa que entra para esse grupo de companhias bilionárias, mais dinheiro chega para o universo de startups, que já conta com sete unicórnios – Nubank, Movile, Stone, 99, PagSeguro, Gympass e Loggy. É um ciclo virtuoso que ajuda na expansão das empresas.
Um exemplo é a Gympass, que recebeu aporte de US$ 300 milhões em junho deste ano e usará parte dos recursos na expansão internacional. Criada em 2012, a plataforma de assinatura de acesso a academias já está em 14 países e quer acelerar sua presença global. “Decidimos iniciar a internacionalização quando vimos que os clientes brasileiros já estavam satisfeitos”, diz o vice-presidente da empresa, Juliano Ballarotti.
Mudança de cultura sobre negócios globais
Na avaliação de especialistas, o País demorou para entrar nesse movimento de internacionalização por causa do tamanho de seu mercado. “Ao contrário de Israel, Argentina e Colômbia, o Brasil tem um mercado interno muito forte e grande; então é natural que os empreendedores foquem suas atenções aqui e deixem o ambiente internacional de lado”, afirma o sócio da Valor Capital, Michael Nicklas.
Mas de uns tempos para cá, destaca Nicklas, essa visão tem mudado rapidamente. “Há uma impressão de que, se não correr, alguém pode pegar a ideia e dominar o mercado”, resume o executivo, cuja gestora – criada pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel – já investiu em 30 startups no País.
Foi com esse pensamento que o banco digital Nubank anunciou, em maio, a abertura de uma subsidiária no México e, em junho, comunicou sua chegada à Argentina a partir do ano que vem. “Poderíamos ficar só no Brasil, mas temos grandes ambições”, diz o fundador da empresa, David Velez.
Ele afirma que a internacionalização do banco seguiu alguns cuidados. Primeiro, ela deveria ocorrer no momento certo, quando a operação estivesse sólida, gerando caixa e numa curva firme de crescimento. No México, diz ele, a oportunidade é maior que no Brasil uma vez que a penetração de cartão de crédito é de apenas 10% e a desbancarização, de 70%.
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“Vemos uma postura bem diferente daquela do passado, e um dos motivos é que o ecossistema das startups está muito bem desenhado”, diz Romero Rodrigues. Para ele, não existe uma receita de bolo. Mas a internacionalização depende muito do modelo de negócios. Como a Pipefy e a Rocket Chat, a solução desenvolvida pela catarinense Resultados Digitais tem tido forte demanda no mercado global.
A empresa criou uma plataforma de marketing digital voltada para pequenas e médias empresas e já conquistou 13 mil clientes em 20 países diferentes. A demanda levou a empresa a abrir escritórios em Bogotá (Colômbia), Cidade do México e São Francisco (EUA). “Queremos capturar a oportunidade de ser o primeiro a chegar em algum mercado, mas não queremos confundir pressa com velocidade”, diz a vice-presidente da empresa, Juliana Tubino.
A chefe de startups e ecossistema do Cubo, centro de inovação do Itaú, Renata Zanuto, concorda com Juliana: “A internacionalização é um movimento natural das empresas, uma nova tendência, mas, para dominar um mercado, é preciso dominar direito para não ficar no meio do caminho”.
Fonte: “Estadão”