É comum associar empreendedorismo aos mais jovens — porém, os mais experientes mostram que o histórico de carreira pode ajudar a criar um negócio mais bem sucedido.
De acordo com um estudo feito pelo Sebrae a partir da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, a proporção de donos de negócio com 65 anos ou mais é 7% do total no Brasil, o que dá cerca de 2,2 milhões de empreendedores nessa faixa etária.
Tais donos de negócio apresentam maior rendimento mensal do que seus colegas de empreendedorismo — 14% deles ganham cinco salários mínimos ou mais mensalmente. Também são a faixa etária que mais emprega, representando 18% do total de empregos gerados.
Nove a cada dez empreendedores da terceira idade tocam o negócio há mais de dois anos, trabalhando primordialmente em estabelecimentos fixos (loja, escritório ou galpão), na área rural (fazenda, sítio ou granja) ou no domicílio. O Mato Grosso do Sul é o estado com maior proporção de donos de negócios com 65 anos ou mais (10%).
Segundo o Sebrae, o que os motiva a abrirem a própria empresa é conseguir uma fonte de renda adicional, enquanto os empreendedores de 18 a 24 anos de idade buscam o sonho da independência financeira.
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Alguns obstáculos que os empreendedores seniores enfrentam são a baixa escolaridade e a falta de informatização na gestão. Eles também possuem menor representatividade de negros e mulheres se comparados com negócios liderados por jovens. Por fim, os microempreendedores individuais com 65 anos ou mais têm a mais alta proporção de informais como ocupação anterior, o que indica uma profissionalização recente.
Depois dos 60 também é tempo de empreender
Só no estado de São Paulo são quase 120 mil microempreendedores individuais (MEIs) com 61 anos ou mais. Eles representam 6,1% dos mais de 1,9 milhão de MEIs. No ano passado, essa participação era de 5,7%. Há três anos era de 4,3%.
Pesquisa do Sebrae-SP sobre empreendedorismo na terceira idade mostra que a principal motivação para abrir o negócio de 36% dos entrevistados foi ter uma fonte de renda ou complementar a renda familiar.
Foi o caso do casal que mora em São Paulo, Vicente e Eliane Guimarães, de 64 e 66 anos, respectivamente. A situação apertou e os ganhos como vendedor de Vicente não estavam fechando as contas. Foi então que surgiu a ideia de comercializar molhos de pimenta, geleias, pastas e conservas.
A receita do molho é de Vicente e as outras criações e adaptações são da Eliane, que chegou a trabalhar como professora de informática e antes de empreender era dona de casa. “Hoje sou uma dona de casa tentando ser uma empreendedora”, diz.
A rotina de cuidar da casa e da produção da Vi Pimenteiro é puxada. Comprar os vidros, esterilizar, produzir artesanalmente, etiquetar e vender em eventos.
“Minha maior recompensa é essa: ficar feliz. É loucura, tem horas que fico extremamente cansada, mas é compensador. Você se sente útil, se sente capaz. Saímos felizes dos eventos, é muita energia boa. O mais gostoso de tudo não é só vender. É quando a pessoa chega para degustar e elogia. Não tem dinheiro no mundo que pague”, conta Eliane.
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As vendas começaram em um bazar no condomínio de uma amiga há um ano. Desde então, não pararam mais. Entre tropeços e acertos, o casal encontrou seu público-alvo: os produtos são vendidos em feiras veganas e vegetarianas.
“Nós participávamos de tudo quanto é feira e eventos e aprendemos que não é bem assim. Fiz cursos do Sebrae pela internet, participei de várias oficinas e do projeto de alimentação fora do lar. Aprendi muita coisa. Não consegui colocar tudo em prática ainda. Mas uma das coisas mais importantes que aprendi é que você precisa descobrir quem é o seu público-alvo. Hoje eu sei qual é e é nele que focamos. Na verdade, não temos clientes, temos amigos”, conta Eliane, que está começando a fazer parcerias para ganhar mercado.
Fonte: “EXAME”