O avanço da tramitação da reforma da Previdência no Congresso abre espaço para a retomada dos investimentos no país. A avaliação é de representantes de empresas e de entidades empresariais ouvidos pelo GLOBO. De acordo com esses executivos, os parlamentares e o governo precisam usar a nova Previdência — que ultrapassou a primeira fase de votação na Câmara na quarta-feira — como gatilho para emplacar outras reformas, como a tributária , capazes de melhorar o ambiente econômico do país e favorecer a retomada efetiva do crescimento. A reforma também tem aumentado a demanda de investidores estrangeiros por advogados e consultorias em busca de oportunidades de negócios no Brasil. A Câmara se reúne nesta sexta para votar sete destaques ao texto-base da reforma .
Jacyr Costa Filho, diretor da operação brasileira do grupo francês de açúcar e etanol Tereos, avalia que o alívio fiscal proporcionado pelas mudanças na Previdência cria um ambiente propício ao investimento e ao aumento de consumo das famílias, pela provável queda dos juros entre os efeitos:
— Vamos acompanhar a evolução da economia e a perspectiva de que, a esta reforma, sigam-se outras, importantes para a retomada do crescimento, especialmente a tributária.
Fernando Galletti, presidente da Minerva Foods, multinacional do setor de alimentos sediada em São Paulo com faturamento de R$ 17 bilhões em 2018, vai na mesma linha:
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— Os investidores vão, gradualmente, ganhando confiança para novos ciclos de investimentos. Para nosso setor é positivo, pois reaquece a demanda interna.
A esperança de reaquecimento da demanda nos próximos meses pode desencadear alguns investimentos já no curto prazo. É o caso da Lojas Cem, varejista paulista com faturamento anual de R$ 6 bilhões. De acordo com o superintendente José Domingos, a expectativa é de expansão das vendas acima de 10% em 2019, a primeira em quatro anos. Será o suficiente para a empresa investir R$ 220 milhões em 2019 — 22% mais que em 2018 — na abertura de 12 lojas e um novo centro de distribuição ao lado da matriz, em Salto, no interior paulista.
Marco Stefanini, fundador e presidente global da Stefanini, empresa de tecnologia, observa que a reforma da Previdência não é a única de que o país precisa para voltar a crescer, mas destaca o componente psicológico do placar de 379 votos favoráveis na Câmara:
— A maioria expressiva revela que houve entendimento e serenidade sobre a questão. É uma sinalização positiva.
Investidores estrangeiros, sobretudo ligados à infraestrutura, também acompanham com atenção a tramitação da reforma da Previdência. Nas últimas semanas, com o avanço da proposta na Câmara, escritórios de advocacia e consultorias internacionais registraram aumento do interesse de fundos de investimento, comercializadoras de commodities e estatais de países da Ásia, Europa e América do Norte por informações sobre oportunidades de investimentos com a perspectiva de melhora no ambiente econômico.
Ajuda a aumentar o interesse a quantidade de ativos à venda hoje no Brasil. A procura maior é pelo setor de petróleo e gás. Somente a Petrobras iniciou o processo de venda de 13 -negócios, incluindo campos de petróleo, subsidiárias de gás e refinarias. No fim do ano, um megaleilão do pré-sal deve levantar cerca de 100 bilhões em bônus e R$ 400 bilhões em investimentos, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
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Interesse asiático
O governo também prepara concessões e mudanças na regulação que podem gerar oportunidades de investimentos bilionários em áreas como saneamento, portos, aeroportos e mineração.
Os mais interessados são os asiáticos. A consultoria Deloitte, por exemplo, já contratou especialistas em infraestrutura de China e Japão para trabalhar no Brasil e ajudar no trabalho de assessoria a investidores dos dois países.
— Os juros no mundo estão muito baixos. Isso ajuda a elevar o interesse pelo Brasil, mas investidores ainda reclamam da volatilidade do câmbio. Muitos esperam a Previdência ser aprovada por completo. Só após haverá velocidade maior na venda de ativos, como estatais — diz Eduardo Martins, sócio da consultoria, que acaba de realizar rodada de negócios em Canadá, Japão e China para atrair clientes interessados no Brasil.
O escritório Chediak Advogados também aumentou seu escritório em São Paulo para atender mais investidores estrangeiros a partir do segundo semestre. Fernando Marcondes, sócio da área de infraestrutura do L.O. Baptista Advogados, conta que, em junho, chegou a receber até duas estatais chinesas por semana interessadas em investir no Brasil.
— No momento, eles querem entender. Estamos recebendo mandatos de investidores que olham aeroportos, saneamento e energia. A tendência é que esse movimento aumente, e os negócios comecem a se concretizar em 2020 — diz Marcondes, que também preside a Câmara de Comércio Americana do Rio.
Para Fernando Pimentel, presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o avanço da reforma da Previdência sinaliza uma chance concreta de o país sair da condição de insolvência. No entanto, ele alerta que os investimentos no setor produtivo, capazes de gerar empregos, demoram a sair do papel e dependem de outras reformas. Por isso, diz Pimentel, a reação dos empresários é mais cautelosa que a dos investidores no mercado financeiro:
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— A reação do mercado financeiro é sempre diferente da da economia real. Eles ganham dinheiro com um clique. O setor produtivo será afetado positivamente quando for feita uma reforma tributária, que traga simplificação de impostos, mais segurança jurídica, redução dos impostos ao longo do tempo quando a economia retomar.
Flávio Serrano, economista do banco Haitong, concorda:
— Para atrair o setor privado, é preciso melhorar o país institucionalmente e reduzir o risco para quem vem de fora.
Fonte: “O Globo”