Fim da madrugada do dia 10 de julho. Um homem magro, usando boné e casaco, entra na loja de conveniência de um posto de combustíveis, chega perto de uma funcionária em pé diante do caixa e diz: “É o seguinte, não estou sozinho, estou de ferro (revólver) e você vai me dar tudo que tem aí”. A atendente, assustada, entrega a ele maços de dinheiro. Antes de ir embora, o bandido ainda exige dois maços de cigarro e pega um pacote de biscoitos.
O crime aconteceu na Rua General Espírito Santo Cardoso, onde fica a delegacia da Tijuca. A 19ª DP está localizada a apenas 80 metros do posto de combustíveis. Somente este ano, o estabelecimento foi assaltado três vezes, e, em todas, teve o caixa esvaziado. Crimes assim, nas barbas da polícia, parecem fazer parte do cotidiano do Rio: um levantamento baseado em registros de ocorrências mostra que, entre janeiro e outubro, 206 roubos foram praticados a menos de cem metros de delegacias ou batalhões da PM.
No levantamento, foram analisados dados de assaltos a pedestres, motoristas e estabelecimentos comerciais, além de roubos de celulares. Foram contabilizadas somente ocorrências registradas nas ruas onde estão unidades das polícias Civil ou Militar.
— Nem parece que tem uma delegacia aqui. O posto já foi roubado várias vezes. Também tivemos casos de funcionários abordados no meio do expediente, principalmente de madrugada, por bandidos em motocicletas, geralmente armados com revólveres ou pistolas. O mais impressionante é que, quando eles fogem, passam em frente à 19ª DP — lamentou um frentista.
A maior parte dos crimes ocorreu no entorno de delegacias. Foram 181 roubos perto de 42 unidades da Polícia Civil no Rio, o que corresponde a 87% do total de casos contabilizados no levantamento. A delegacia que está no topo do ranking de quantidade de casos é a 4ª DP (Praça da República), na Avenida Presidente Vargas, no Centro, onde também funciona provisoriamente a 1ª DP (Praça Mauá): houve 63 nas proximidades, o que dá uma média de seis por mês.
A segunda delegacia da lista é a 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), com 15 roubos no entorno. Das 43 unidades da Polícia Civil localizadas no município, somente oito não registraram crimes a menos de cem metros de seus prédios.
No dia 27 do mês passado, um crime praticado em frente à delegacia de Copacabana, a 12ª DP, ganhou repercussão: o tradicional bar Pavão Azul foi arrombado durante a madrugada. Mas, segundo o delegado Gabriel Ferrando, titular da unidade, nada de valor foi levado. Mas, por não ter acontecido entre janeiro e outubro, o caso acabou ficando fora do levantamento.
Perto de unidades da Polícia Militar foram praticados 25 assaltos, e 12 tiveram pedestres como vítimas. O maior número de casos ocorreu no entorno do 6º BPM (Tijuca): seis. Segundo o registro de um deles, feito em setembro na 20ª DP (Vila Isabel), uma idosa de 72 anos teve uma carteira roubada num ponto de ônibus que fica a 50 metros do batalhão.
Fonte: “O Globo”
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