As células-tronco são os coringas do organismo: elas podem se transformar em diferentes tecidos, o que ajuda o corpo a combater diversas doenças. A startup carioca Cellen leva esse recurso de ponta para o mundo dos animais domésticos. Criada em 2016, a empresa produz células-tronco para tratamentos veterinários, que são vendidas a uma rede de profissionais especializados no país.
Os fundadores, pesquisadores experientes dessa área, dominavam os aspectos científicos da empreitada, mas precisaram correr atrás de novos conhecimentos para transformar alguns milhões de células-tronco em uma empresa de verdade. “Nosso maior problema é que a gente não entendia nada de negócios”, conta a veterinária e pesquisadora Luciana Figueiredo, 42 anos.
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Seu sócio, Hélio Menezes, 45, também era do ramo dos microscópios e placas de cultivo — e não do empreendedorismo. “Nós ficávamos no laboratório desenvolvendo o produto e não íamos atrás de clientes, por exemplo”, diz ela.
Parte da solução surgiu quando os sócios foram selecionados para ingressar na Coppe UFRJ, a incubadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O processo de seleção e alguns cursos de capacitação — um deles no Sebrae — fizeram com que Luciana e Hélio amadurecessem seus conhecimentos em empreendedorismo. Em paralelo, a infraestrutura da universidade permitiu que eles colocassem a empresa para funcionar, mesmo sem todo o capital inicial necessário — eles investiram R$ 500 mil de recursos próprios.
A questão da falta de clientes seria resolvida em meados de 2017. Ainda focado nos estudos sobre o produto, o time da Cellen recebeu no laboratório uma pesquisadora veterinária em busca de informações sobre células-tronco. Por uma feliz coincidência, ela trabalhava no Jockey Club Brasileiro do Rio de Janeiro. Por conta disso, decidiu testar a tecnologia em um cavalo que tinha quebrado o joelho e estava condenado à aposentadoria.
O animal recebeu três aplicações e, em quatro meses, estava de volta às corridas. Era o primeiro cliente da Cellen. Daí para a frente, a empresa passou a desenvolver uma rede de veterinários parceiros, que seriam capacitados para executar esse tipo de tratamento. “No início, nós achávamos que os veterinários viriam nos procurar. Mas a maioria não tinha conhecimento sobre células-tronco. Tivemos de capacitá-los”, diz Luciana.
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Hoje, a empresa soma 160 pacientes, de cachorros que recuperaram a capacidade de mover as patas a gatos que curaram uma estomatite. “Quem traciona o negócio são os donos dos pets. Nós, então, indicamos os veterinários de nossa rede para essas famílias”, diz a empreendedora.
Cada aplicação — uma seringa com 20 milhões de células-tronco — custa R$ 1,2 mil para os consumidores. Em geral, são aplicadas três doses. “Por ser um produto acessível, o mercado é gigantesco”, diz Menezes. “Mas queremos ganhar escala justamente para deixá-lo ainda mais barato e garantir o acesso de famílias de renda mais baixa ao tratamento.” Para isso, estão em busca de investidores. “Nosso plano é sair da escala artesanal para a industrial”, afirma o empreendedor.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”