Os maiores bancos do Brasil colecionam as melhores rentabilidades em anos — mas isso não significa que eles estejam atendendo todo o público que podem. Fintechs especializadas, como a Celcoin, crescem em um país onde ainda existem cerca de 60 milhões de brasileiros desbancarizados.
A startup se propõe a conectar autônomos e comerciantes dispostos a aumentarem sua renda com usuários sem acesso a serviços digitais. Com 15 mil agentes e um volume de 120 milhões de reais transacionados todos os meses, a Celcoin acabou de conquistar um aporte de seis milhões de reais do fundo Vox Capital para expandir essa rede de revendedores e se firmar como instituição de pagamentos.
A oportunidade nos desbancarizados
A Celcoin foi criada por Marcelo França, que fez carreira no segmento de tecnologia financeira e trabalhou em bancos, principalmente desenvolvendo redes de correspondentes bancários com atuação forte em interiores e periferias. “Percebi a penetração crescente de smartphones e a ideia era que cada usuário pagasse suas contas e fizesse recargas de celular”, afirma o empreendedor.
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Em março de 2016, a experiência se transformou na Celcoin. Seis meses depois, o negócio pivotou do atendimento autossuficiente para um modelo de agentes. Revendedores porta a porta, motoristas de aplicativo e pessoas com pequenas comércios usam seus smartphones como terminais de serviços como pagar contas, recarregar celulares e vender créditos para a plataforma de streaming Netflix ou para a loja de aplicativos Google Play. O comprovante da transação é enviado por SMS ou WhatsApp.
Ainda que contas e recargas sejam o forte da Celcoin, o conteúdo digital também cresce. “Atendemos consumidores que não têm cartões e, até agora, não podiam acessar uma assinatura da Netflix, por exemplo”, diz França.
A Celcoin possui 15 mil agentes, que fazem 1,3 milhão de transações e movimentam 120 milhões de reais por mês. A startup está em 1.800 municípios brasileiros. Os estados com maior penetração são Bahia, Ceará, Maranhão e Pará — em alguns deles, o número de agentes ultrapassa o de agências lotéricas. Metade do faturamento, não divulgado, vem das regiões Nordeste e Norte.
“De um lado, a população local desbancarizada ou sub-bancarizada resolve sua dificuldade em acessar esses serviços. Por outro, quem é comerciantes atrai de 130 a 150 mais pessoas mensalmente ao seu ponto comercial e aumenta sua renda em 15%, pelo consumo em outros produtos”, explica França.
Não há custo ao agente nem ao consumidor final. A Celcoin recebe uma remuneração do distribuidor de cada serviços e repassa uma parte aos seus revendedores. A startup já distribuiu 8 milhões de reais em comissões aos seus agentes.
Investimento e expansão
A Celcoin passou uma aceleração na empresa de pagamentos Visa e uma imersão no vale do Silício (Estados Unidos) em 2018, o que “ampliou a rede de contatos” da startup, diz França.
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Neste mês, a Celcoin obteve um aporte de seis milhões de reais do Vox Capital, fundo de investimentos focado em negócios de impacto social. O investimento será usado para expandir a captação de agentes e para suportar os custos de se tornar uma instituição de pagamentos — o pedido já foi entregue ao Banco Central.
A Celcoin espera chegar ao final deste ano com 30 mil agentes e dois bilhões de reais transacionados. Apostar em um nichos distantes do interesse dos grandes bancos está se provando uma estratégia de expansão bem-sucedida.
Fonte: “EXAME”