Segundo o levantamento, a região Sudeste é seguida pelo Sul, com 257 startups “agro”. O Centro-Oeste tem 71 empresas, enquanto o Nordeste tem 41 e a região Norte, apenas 16. Para chegar ao número, o Radar Agtech fez um ‘levantamento ativo’: realizou buscas em sites, consultou bases de dados de investidores, investigou a relação de startups inscritas em programas de aceleração e monitorou editais e eventos do setor.
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Especialistas ouvidos pela reportagem disseram que a concentração nas regiões Sul e Sudeste – que contemplam quase 90% das agtechs do Brasil – ocorre pela presença de capital humano qualificado, grande mercado consumidor, disponibilidade de investidores e pela força do agronegócio na região. Juntas, as duas grandes regiões têm 107 milhões de habitantes e seis dos dez Estados mais ricos do Brasil.
“A concentração se explica pela presença de parques tecnológicos e polos de inovação, assim como a quantidade de universidades e institutos de pesquisa. As dificuldades de desconcentrar são inerentes à existência de ambientes de inovação”, disse Cleidson Dias, da secretaria de inovação da Embrapa e responsável pelo levantamento na empresa. Apesar disso, ele afirma que existem comunidades e ecossistemas de inovação nos Estados da região Norte e Nordeste despontando na criação de agtechs, principalmente por conta da união do setor privado e do público.
Para Francisco Jardim, do fundo estadual SP Ventures, especializado em agtechs, destaca, no entanto, que existe uma descentralização maior no setor no que de outras startups. Isso porque há uma forte presença de agtechs em cidades como Piracicaba, Ribeirão Preto e Campinas, por exemplo – os três municípios, juntos, são berço de 116 empresas de base tecnológica focadas no agronegócio.
Os dados do Radar AgTech, porém, levam em consideração apenas a cidade de origem de startups. Em julho, uma reportagem publicada pelo Estado mostrou que Piracicaba era a “capital das agtechs”, reunindo cerca de 120 empresas do tipo – as informações, da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), consideram não só as startups que nasceram na cidade, mas também as que têm um escritório por lá.
Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, a empresa estatal pode auxiliar no desenvolvimento de novas soluções em todas as regiões do País – e é preciso capilarizar a inovação. Hoje, a Embrapa tem 43 unidades em todo o território nacional e se prepara para organizar eventos como o AgTech Meio Norte, que levará discussões de pesquisa e inovação ao Piauí.
Capital, mão de obra e formação são desafios para setor
Para Jardim, situações como a falta de estrutura, especialmente conectividade, atrasaram o desenvolvimento das agtechs. Citou ainda a complexidade do setor, que demanda conhecimentos em agronomia, economia, meteorologia, biologia e programação. Outro aspecto é o de o agro ser uma “indústria a céu aberto”, de modo que há muitas variáveis que podem impactar no resultado final.
Na visão do pesquisador Guilherme Raucci, da FGV-SP, é preciso modernizar as linhas de financiamento para que mais produtores e empresários possam investir nas soluções oferecidas pelas agtechs. Ele também defende a capacitação profissional. “É um ambiente de transformação muito rápida. Faltam habilidades de programação, negócios, mas também de saber lidar com incertezas, ter uma ideia, testar rapidamente e mudar. As pessoas não saem da faculdade preparadas para um mercado que exige esse aprendizado constante”.
Fonte: “Estadão”