Júlio Hegedus Netto
SÃO PAULO – Após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2010 acima do esperado para muitos analistas, a pergunta que fica é se a indústria no País deve atender a demanda com um crescimento da ordem de 7%, previsto tanto pelo mercado quanto pelo governo. Para tentar atender essa demanda, foi publicada ontem no Diário Oficial a ampliação em R$ 10 bilhões da linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conhecida como Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) que deve contribuir para que a resposta à dúvida seja positiva.
O programa serve para bens de capital e para produção de bens exportáveis e inovação tecnológica, com subsídio do Tesouro Nacional. A linha, que era de R$ 124 bilhões, será agora de R$ 134 bilhões e também vai financiar o setor de energia elétrica. A mudança foi incluída na Medida Provisória 501, que prolonga também de 31 de dezembro de 2010 para 31 de março de 2011 o prazo para contratação dos financiamentos.
O PSI foi inicialmente criado durante a crise internacional com um volume inicial de R$ 44 bilhões. O valor foi, posteriormente, elevado em R$ 80 bilhões pela MP 487, cujo prazo de votação venceu no último dia 5.
Com a queda da MP, o governo teve que editar uma nova medida para garantir o programa e aproveitou para turbinar em R$ 10 bilhões a linha de crédito, que possui taxas bastante favoráveis para quem quer investir. O Ministério da Fazenda ainda não deu explicações sobre a MP, que trata também de outros assuntos. Essa ampliação da linha de crédito não representa aporte de novos recursos do governo no banco, mas sim uma elevação do volume de financiamentos que o Tesouro vai arcar com o subsídio.
Júlio Hegedus Netto, economista-chefe do Interbolsa e membro do Instituto Millenium, acredita que a indústria conseguirá atender a demanda originada pelo forte crescimento econômico deste ano. “O crescimento é equilibrado. Embora a oferta avance menos do que á demanda, não haverá muita diferença entre ambas. Esse aumento de crédito do PSI é positivo a princípio à medida que revela que há muitos pedidos de crédito do BNDES, o que amplia a capacidade produtiva. É resposta de um consumo forte com uma demanda previsível”, observa ele, que prevê alta do PIB de 7,4% para 2010 e uma expansão de 24% da taxa de investimento, ao alcançar 18,5% com relação ao PIB deste ano.
O professor da Brazilian Business School (BBS), Ricardo Torres, concorda que o horizonte é positivo para a indústria, assim como para a economia brasileira neste ano e nos próximos. “Alguns setores estão tendo que importar mais equipamentos para suprir a demanda. Mas não vejo isso como um problema. Isto só seria ruim se continuasse no decorrer dos anos a exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos”, avalia. “De qualquer forma, vivemos em um momento único. Por isso acredito que excessos serão solucionados. Mesmo porque o empresário brasileiro só investe se acredita em uma demanda certa”, acrescenta o especialista.
Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, afirma que, neste ano, a indústria deverá atender a demanda e o PSI deve continuar a fortalecer esse atendimento. “O problema vai ser a partir de 2011. Dificilmente o PIB brasileiro tem condições de apresentar um crescimento tão elevado nos próximos anos devido, sobretudo, aos baixos níveis de investimentos públicos e privados. Somente com taxas de investimento acima da ordem de 25% do PIB é que o País poderá sustentar taxas de crescimento do PIB em torno de 5% sem gerar pressões inflacionárias”, analisa.
Questionado se essa ampliação de recursos não poderia se estender para 2011, ano que gera incertezas entre economistas, Netto considera que como 2010 é ano de eleições, algumas medidas serão tomadas de forma cautelosa. Ou seja, neste primeiro momento é difícil afirmar se a ampliação do contrato de financiamento será para além de março do próximo ano. “Por outro lado, o ritmo é bom. Acredito que a economia avance 4,8% em 2011”, diz.
Já para Alcides Leite, mais do que ampliar o prazo de contratação de financiamento seria o caso do governo fazer um aperto fiscal e ampliar os investimentos públicos. “Se o volume de investimentos do governo passar dos atuais 2% do PIB para 5% do PIB, o número de recursos do setor privado virá mais fácil e assim chegaremos aos 25% [de investimentos] necessários para a economia.”
Focus
Como reforço a opinião dos especialistas, na última segunda-feira, na primeira pesquisa Focus divulgada após o anúncio do resultado do PIB no segundo trimestre de 2010, analistas elevaram a estimativa para o crescimento da economia neste ano de 7,09% para 7,34%. Para 2011, a mediana das previsões segue em 4,50%. Na mesma pesquisa, foi mantida pela quarta vez a previsão para a alta da produção industrial de 2011 em 5%. Para 2010, a aposta recuou de 11,47% para 11,37%.
Leia no “DCI”.
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