Despeço-me desta coluna. Serei eternamente grato à “Folha”. Foi uma honra.
A coluna foi interrompida precocemente por um convite para ajudar na formulação e na implementação de políticas que aumentem a produtividade da economia brasileira.
Escrevi em uma coluna:
“Há quatro formas de aumentar o PIB per capita. Três são intuitivas: acumular máquinas (capital), colocar mais gente para trabalhar (trabalho) e qualificar o trabalhador (capital humano). Capital, trabalho e capital humano explicam parte das diferenças de renda entre países e de sua evolução ao longo do tempo.
A parte não explicada é a produtividade. É a quarta forma de crescer: produzir mais bolo com os mesmos ovos e a mesma farinha, ou seja, o fermento”.
Nossa produtividade patina há décadas, como demonstram vários analistas, incluindo este escriba. Por isso, o crescimento brasileiro foi frustrante desde a década de 1980. Em que pesem avanços importantes, como a derrota da inflação e a diminuição da pobreza, nosso desempenho esteve muito aquém do que poderíamos. Ainda estamos em busca do esquivo crescimento sustentável.
A boa notícia é um copo meio cheio: há muito o que melhorar. O crescimento sustentável depende das decisões que estamos tomando neste momento. Tudo começa pela correção os desequilíbrios fiscais, o que exige uma reforma previdenciária nos moldes que o governo federal propõe.
Mas, além do fiscal, a agenda da produtividade é crucial. Ela já começou, mas a tarefa é longa. Se aumentarmos sistematicamente a produtividade por vários anos, entregaremos para nossos filhos um país tão próspero como a Austrália hoje. Caso contrário, entregaremos algo parecido com a Grécia, com sorte.
A agenda da produtividade é de todos os governos, federal, estaduais e municipais. E é não só dos atuais governos mas também do que os seguirão. E é não só dos Poderes Executivos mas também dos Poderes Legislativos e Judiciários Brasil afora. E é não só dos poderes públicos mas, principalmente, da sociedade.
Compete à sociedade a decisão de abraçar a agenda da produtividade. Por vezes, ela será dura, assim como o é o ajuste fiscal. Mas abraçar a agenda não basta. É preciso ajudar com ideias e propostas.
A ação do governo é importante, evidentemente. Mas ele não é sabe-tudo, pelo contrário. No passado recente erramos ao acreditar que, desde Brasília ou de quaisquer gabinetes em outras capitais, adivinharíamos o que era melhor para os que produzem. O que impede o empreendedorismo? Quem saberá melhor são os próprios empreendedores. Eles podem ajudar. O governo deve buscar a ajuda.
A ajuda deve vir na forma de propostas que aumentem produtividade, a única maneira de crescer de forma sustentável. A melhora da produtividade fará crescer os lucros, assim como os salários e a arrecadação, mas é preciso estar claro que aumento de lucro e melhora de produtividade não são equivalentes.
O lucro pode aumentar à custa do contribuinte (isenção tributária), do fornecedor (forçar os fornecedores de energia a vender por um preço artificialmente baixo) ou do comprador (proteção tarifária ou conteúdo local). Essas formas de aumento de lucro são disputas por fatias do mesmo bolo.
O bolo cresce quando o aumento de lucro vem da melhora da produtividade. É como se usássemos um fermento melhor. E é do aumento no tamanho do bolo que sairão os recursos para construir uma sociedade mais próspera e justa.
Fonte:” Folha de S. Paulo”, 18 de março de 2017.
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