O Ibovespa, o principal índice acionário brasileiro, se descolou das principais bolsas do mundo e passou a acumular queda desde o ano passado. Em 2021, enquanto que a bolsa brasileira caiu 12%, o S&P 500, dos Estados Unidos, subiu 27% e o Euro Stoxx 50, principal da Europa, teve alta de cerca de 20%.
Já neste começo de ano, com a variante Ômicron do coronavírus impondo restrições, as bolsas mundiais passaram a ter mais volatilidade. Mesmo assim, a bolsa brasileira ainda fica para trás.
De acordo com especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, enquanto lá fora, as restrições acerca da pandemia do coronavírus foram mais brandas no ano passado, o Brasil registrou aumento de casos em 2021. Mas mais do que isso. O país ainda enfrenta o descontrole da inflação, alta da taxa básica de juros, a Selic, e desconfianças fiscais, combo que não ocorre lá fora.
“O Brasil começou a cair em junho do ano passado, quando o Ibovespa saiu de 130 mil pontos para próximo dos 100 mil agora. O motivo é que a inflação começou a se descontrolar, a situação fiscal começou a destrambelhar também”, diz Flávio Conde, head de renda variável da Levante.
A inflação de 2021, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 10,06%. Dessa forma, para tentar segurar a alta dos preços, a Selic passou de 2% ao ano para 9,25%, o que deve desaquecer a economia brasileira.
“Empresas brasileiras têm dificuldade de operar com a redução do consumo. Assim, elas têm menos receita e, com menos receita, as cotações caem e puxam o Ibovespa para baixo”, afirmou Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Cenário fiscal também afeta a bolsa
Além da inflação e dos juros, o cenário fiscal, com uma alta dos gastos por parte do governo, também preocupa os agentes do mercado.
“As incertezas fiscais não deixam os investidores confortáveis para tomar muito risco no mercado e este problema é intensificado por causa das eleições. O aumento de gastos pode fazer com que a gente tenha mais discussões sobre flexibilização do teto de gastos e de pouco em pouco reduzir a credibilidade em relação à sustentabilidade das contas públicas”, disse Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
Segundo o analista, a situação fez com que fundos de investimento que investem no Brasil precisassem vender suas posições para pagar os cotistas que exigiram o resgate.
“Muitos fundos de investimento estão sofrendo resgates e precisam vender os ativos para honrar a devolução dos recursos. Alguns ativos têm liquidez mais baixa e, por isso, acabam sofrendo mais. Olhando somente o Ibovespa, parece que houve uma pequena performance negativa em relação aos outros mercados, quando, na verdade, temos boa parte dos papéis com impacto negativo”, afirmou.
Fed pode reduzir diferença
Apesar da grande diferença entre as performances da bolsa brasileira e as dos Estados Unidos, o começo de 2022 vem sendo negativo para ambas. Isso ocorre, pois o Fed, o banco central americano, passou a sinalizar que também deverá passar a subir os juros dos Estados Unidos, o que deve fazer com que os títulos públicos de lá voltem a ganhar atratividade em comparação à bolsa.
“Lá nos Estados Unidos, enquanto que o Fed afirmava que não haveria aumento de juros, as bolsas subiram, portanto, nossa bolsa descolou. Agora, no começo do ano, o Fed mudou a postura, disse que vai ter aumento de juros e que vai parar de comprar títulos para dar liquidez ao sistema, vendendo títulos”, disse Conde.
Dessa forma, caso os juros nos Estados Unidos aumentem, os índices americanos também poderão sofrer neste ano, fazendo com que o Ibovespa reduza a diferença do ano passado.
Fonte: “CNN”, 12/01/2022
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