A alta constante de Jair Bolsonaro nas pesquisas Ibope e Datafolha levantou a especulação de que ele possa repetir o feito de João Doria, na eleição para prefeito paulistano em 2016, e levar a eleição logo no primeiro turno.
Não é uma possibilidade que possa ser descartada. A vitória de Bolsonaro no primeiro turno depende de duas condições: 1) manutenção da alta; 2) erro sistemático das pesquisas. Analisemos cada uma delas.
Para medir a alta de Bolsonaro, é preciso avaliar seu desempenho em votos válidos, aqueles que sobram depois de descontados nulos e brancos. Os gráficos abaixo mostram os votos válidos nas pesquisas Ibope e Datafolha ao longo do último mês:
Como se vê, a alta de Bolsonaro acelerou nos últimos dias. Só nesta semana, ele ganhou seis pontos em votos válidos tanto no Ibope quanto no Datafolha. Isso corresponde, aproximadamente, a 6,7 milhões de votos, se considerarmos um nível de abstenção, votos nulos e brancos comparável ao da última eleição.
Se intensificar o ritmo de ascensão, de modo que consiga reunir o mesmo número de votos até domingo, poderá chegar às urnas com 49,2 milhões de votos, perto de 46% dos válidos. Para vencer, precisaria de 50%, ou de um erro da ordem de quatro pontos percentuais nas pesquisas. É possível tamanha diferença?
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Todos já de olho no segundo turno
Não é correto fazer uma comparação com pleitos municipais, como o último paulistano, em que Doria supreendeu. O Brasil é um país continental, onde a informação circula mais lentamente. Mas dá para investigar o grau de acerto das últimas pesquisas nas eleições nacionais.
Para comparar, levantei as últimas pesquisas Ibope e Datafolha antes do primeiro turno ds as eleições presidenciais desde 1989. A tabela abaixo apresenta a diferença entre os resultados nas urnas e a média entre as duas últimas pesquisas Ibope e Datafolha, sempre em votos válidos:
As diferenças médias, tanto para o primeiro quanto para o segundo colocados, não chegam a quatro pontos percentuais. Mas não ficam tão longe disso. Não é incomum as últimas pesquisas subestimarem o potencial de voto, nas últimas eleições entre aqueles candidatos que concorreram contra o PT.
Em dois casos – Geraldo Alckmin em 2006 e Aécio Neves em 2014 –, a diferença passou de quatro pontos. A votação de ambos foi subestimada em 4,8 e 6,8 pontos, respectivamente. A de José Serra, em 3,5 pontos em 2002. A votação de Dilma Rousseff, ao contrário, foi superestimada em 3,4 pontos em 2010 e 3,9 em 2014.
O mais provável, hoje, continua a ser um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro. A ausência de Bolsonaro no debate de ontem na TV Globo, ao mesmo tempo que concedia entrevista a outra rede de televisão, poderá pesar contra ele, assim como seu alto índice de rejeição. De acordo com Ibope e Datafolha, Haddad voltou a conquistar votos nas faixas cativas do lulismo que vinham sendo assediadas por Bolsonaro.
Mas a dinâmica da campanha, com o apelo ao voto útil para derrotar o PT no primeiro turno, e o histórico das eleições passadas sugerem que não é impossível que Bolsonaro saia vitorioso já no domingo. Para isso, contudo, é preciso que ele tenha uma alta ainda maior que a dos últimos dias e que o erro nas pesquisas esteja acima da média histórica.
Fonte: “G1”, 05/10/2018