Por Kleber Morais Bahia
“A virtude está em evitar excessos. Nós governamos como moderada rigorosidade, e em retorno ficamos satisfeitos com uma obediência moderada. E eu acredito poder dizer que nosso povo é moderadamente sóbrio, moderadamente casto e moderadamente honesto.” (James Hilton, “Horizonte Perdido”, 1933)
Em Horizonte Perdido (1933), o escritor inglês James Hilton retrata de forma precisa o mito da terra prometida e sonhada de Shangri-lá, um local paradisíaco perdido em algum ponto do Tibete na Cordilheira do Himalaia, onde todos vivem e convivem de forma harmônica e pacífica.
A vida naquele lugar é baseada no princípio da moderação, na não utilização do cometimento de excessos em todas as suas atividades e atitudes.
Com os problemas sociais existente no mundo atual crescendo e se multiplicando cada vez mais, o homem é levado à seguinte reflexão: Será que vale a pena priorizar o Ter em detrimento do Ser? Será que o acúmulo de bens e valores nas mãos de poucos não é a causa do caos social que se instaurou no mundo moderno?
Todo ser humano busca consciente ou inconscientemente, em alguns momentos de sua vida encontrar o seu tão sonhado paraíso, a sua Shangri-lá, nos moldes da descrita por Hilton em sua obra de ficção.
Em alguns lugares este paraíso buscado por todos é vendido por partidos políticos em busca do poder como mercadoria, uma mercadoria fácil de ser comercializada em razão de ser a busca interna de cada cidadão.
O Horizonte Perdido é transposto das páginas dos livros e passa a fazer parte de programas políticos de alguns partidos com o fim único de alcançar e manter-se no poder seja a que custo for.
Do outro lado do planeta, distante alguns milhares de quilômetros do Tibete, existe não na forma de ficção, mais fazendo parte do mundo real, um pseudo-paraíso chamado Brasil, o qual foi exaltado por Ary Barroso em sua maravilhosa Aquarela.
O supramencionado paraíso tropical passou, no ano de 1964, por uma fase de ruptura institucional que perdurou até 1989, quando o povo voltou a escolher através do voto direto o mandatário maior da Nação, aquele que conduziria o País ao jardim do Éden buscado por muitos durante os tempos de governo militar.
Depois de passados 29 anos, o povo foi às urnas e elegeu Presidente o hoje Senador da República pelo Estado das Alagoas, o Sr. Fernando Afonso Collor de Melo que acabou sendo afastado do cargo, tendo depois renunciado em razão de denúncias de corrupção feitas pelo seu irmão. Tal episódio trouxe profunda frustração a aqueles que lhe confiaram o futuro do País.
Os acontecimentos que levaram a renúncia do Presidente Fernando Collor trouxeram ao povo brasileiro a plena certeza de que o País voltara, depois de algum tempo, a vivenciar a realidade plena da democracia e do Estado Democrático de Direito, nos moldes do previsto na Carta Constitucional promulgada no ano de 1988.
Talvez por influência da obra de Hilton, que desperta cada vez mais o sonho de que o homem para ser feliz deve viver em liberdade política e em uma sociedade justa e solidária, o Brasil estava consciente de que havia saído do estado autoritário que se instalara em 1964 e passara a viver sob o entusiasmo e garantia de uma Constituição Cidadã, votada e aprovada pelos seus representantes.
A liberdade política estava conquistada, faltava a igualdade social.
O retorno do Brasil à plenitude democrática fez com que o povo resolvesse, depois da quarta eleição direta para Presidente da República, eleger um homem saído da pobreza, fundador e representante do partido que congregava desde a sua fundação a grande maioria da população do País, a classe trabalhadora.
O Sr. Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente no ano de 2002, em razão da falsa promessa de que transformaria o Brasil no paraíso tibetano de Hilton.
Em seu discurso de posse o mesmo afirmou que o lema maior de seu governo seria “mudança”, afirmando peremptoriamente que: “A esperança finamente venceu o medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos”.
O que assistimos desde que Lula e seu partido chegaram ao poder foi a disseminação da corrupção e a subversão da ordem, com a certeza da impunidade por parte daqueles que estão metidos nos numerosos escândalos que se avolumam desde então.
Depois da ascensão do PT ao poder, o que pode se observar é o contraponto ao princípio da moderação preconizado por Hilton. Vive-se hoje no Brasil o paraíso dos excessos implantados pelo governo lulopetista. Temos excesso de desvio de dinheiro público; excesso de descaso e afronta às instituições democráticas pelo líder maior daquele partido e seus companheiros; excesso de escândalos envolvendo pessoas e partidos ligadas ao governo; excesso de descumprimento da lei eleitoral pelo Presidente da República para eleger a sua candidata; excesso de violação a direitos individuais constitucionalmente garantidos e muito mais excessos em tudo o que se possa imaginar.
E ai nós perguntamos em qual Shangri-lá estamos vivendo? Na Shangri-lá descrita por James Hilton em sua obra? Ou na Shangri-lá lulopetista, que não passa, pelo que se pode observar, desde que assumiram o poder, de mais uma fábrica de criar ilusões e vender fantasias! Chega de excessos: estamos precisando de mais moderação!
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