Jamais em sua história o Brasil ocupou posição estrelar no cenário internacional. Porém, desde quando o PT assumiu o poder nossa política externa perdeu de vez o rumo. A ausência de conteúdo louvável marcou as atitudes nessa área dos presidentes Lula e Dilma e, por outro lado, o atual governo mantem-se omisso. Como consequência, a já modesta projeção mundial retrocedeu ao nível da irrelevância. Essa realidade é frustrante pois nosso país dispõe de potencial para assumir papel significativo na batalha pela melhoria da segurança e qualidade de vida globais.
Atualmente, a capacidade de liderança dos Estados Unidos encontra-se danificada pela presidência Trump, o interesse da China pelo resto do mundo concentra-se nas oportunidades de negócios, a influência da Europa definhou e a Rússia de Putin constitui alvo de suspeitas. Esse panorama abre espaço para nações de modesto poderio militar, mas expressivas em termos geográficos, populacionais e de PIB, se engajarem em causas benéficas à humanidade.
Desafios de várias naturezas demandam, no presente momento, abordagem internacional coordenada. Entre eles evidenciam-se: degradação ambiental, pobreza, terrorismo, focos de beligerância especialmente no Oriente Médio e África, intolerância racial e religiosa, autoritarismo, tragédia dos refugiados e violência pública em várias partes do planeta. Em vista da impotência da ONU em convergir negociações em busca de respostas a tais desafios, esse papel cabe a países com vocação de exercê-lo. E por que não o Brasil?
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Até mesmo no âmbito latino-americano, a diplomacia brasileira vem dando mostras de inoperância, limitando-se a uma rotina sem resultados substanciais em benefício da região. As últimas iniciativas impactantes ocorreram nas remotas décadas de 50, com o lançamento da Operação Pan-Americana pelo presidente Kubitschek, e de 80 e 90 nos assuntos do Mercosul. A partir de 2013 os sinais mais efusivos de solidariedade regional direcionaram-se apenas aos mandatários bolivarianos e peronistas. E não faltam justificativas à nossa maior dedicação ao destino da América Latina, sobretudo nas esferas econômica, social e ambiental.
Na própria área restrita do Cone Sul, o Brasil nada tem feito para romper o marasmo há vários anos predominante no Mercosul. Desde sua criação, o Acordo limitou-se a ampliar acentuadamente o intercâmbio entre seus países membros, sem lograr o incremento relevante do coeficiente exportação total/PIB. O grande impacto almejado com a criação do Mercosul era o aumento das perspectivas de desenvolvimento econômico dos países membros; mas isso não ocorreu. Assim, seria ultra oportuno se a política externa brasileira promovesse mudanças de estratégia do Mercosul, no sentido de ser enfatizada a expansão da capacidade do bloco como um todo de competir no mercado internacional.
Nosso país possui atributos para contribuir, sem ser alvo de animosidades, com a concretização de objetivos valiosos para a comunidade internacional. É verdade que antes precisaria arrumar internamente a casa, mas parto da premissa otimista de que em breve isso acontecerá. Uma vez restaurada a dignidade dos costumes políticos domésticos, bem administrados os constrangimentos à estabilidade e prosperidade da economia e prestigiado como merece o Itamaraty, o Brasil estará aparelhado a voltar-se politicamente ao exterior com ímpeto e eficácia, inclusive consolidando sua intimidade com a América Latina.